Quando nas estações vem o outono, pessoas também resolvem regressar ao mundo invisível e deixam saudade naqueles que aqui permanecem no ritmo sucessivo das trocas de guarda. Nisto, o mundo gira numa celeridade estonteante, por vezes no entanto monótona aos que desejam encontrar os que amam e agora vivem longe. As sensações deste chão a sumir dos pés, que tomam de chofre as mentes, parecem revirar as folhas e fazem morrer e nascer novas ilusões.
Quase que nem adianta buscar motivos de conhecer os segredos deste adeus das pessoas, porquanto elas revivem no mundo da lua suas criações individuais, desafiam a lei da gravidade e superam quaisquer justificativas que fossem, no tocante de continuar seus afazeres impacientes, porque a vida sempre segue e mantém seus continuares. Correm atrás de si próprias, nos caminhos imaginários das vidas, atores pois dos dramas da humana criação. Porém carecem, isto sim, de mil razões de sentir felicidade, e padecem da síndrome do dia seguinte, diferentes que sejam, ainda que todos assim acreditem de antemão que há uma imortalidade ali logo afora.
Viver, por isto, pelos fascículos das semanas, permanece ao dispor de todos nós, livres que fôssemos e não devêssemos responder face tudo que fizermos do direito de fazer. Migalhas do Infinito, jogamos as fichas do destino ao sabor das compreensões, enquanto padecemos do desejo do prazer, máquinas que trituram os instantes e descascam realidades. Nisto, seremos meras histórias de romances que se desfazem às nossas mãos numa velocidade estúpida.
E os outonos chegam e vão, trazendo distâncias àqueles que regressam no território do Infinito quando menos esperam, fascinados pelos fulgores exatos do tempo sem restrição. Senhor das individualidades, bem que reconhece aonde deixa os que leva consigo à presença constante da inexistência que eles terão de preencher na força das consciências, mais dia, menos dia. Nisso de que caem as folhas da estação que chegou inesperadamente, todavia tão consistente qual a ausência dos que desaparecem nos corredores sombrios da saudade.
(Ilustração: Saudade, de Almeida Junior).
Eu sinto que é um véu necessário, ainda porém, que nos mantém no cotidiano das coisas fugidias.
ResponderExcluirRespirar a vida sem desprendimento é raro, mas sublimes a quem consegue pelo menos vislumbrar em meio ao caos uma esperança.
Melhor viver que encenar vidas alheias, penhasco para ilusões. Compreender melhor o outro pelo olho mágico de si proporcionaria mudanças, talvez, para uma porta das possibilidades de outras existências.
Gosto das composições acompanhadas de ilustrações, combinam bem! 👏🏿👏🏿👏🏿👏🏿👏🏿✨