Diante da ocorrência da grave Seca de 1932, vista como uma das piores verificadas durante todo tempo no Brasil, visando prevenir o possível deslocamento dos sertanejos para a zona urbana de Fortaleza, o governo do Ceará instalou sete campos de concentração de retirantes, pratica adotada antes, na seca de 1915. Tais campos seriam instalados em Crato, Senador Pompeu, Quixeramobim, Patu, Cariús, Ipu e Fortaleza (nos lugares Otávio Bonfim e Urubu).
O campo do Crato localizou-se nas
cercanias atuais do bairro do Buriti, trecho correspondente às margens da linha
férrea desativada, próximo de onde funcionou a antiga usina de açúcar, que ora
abriga a fábrica de papel.
Transcorria a era getulista,
período esse correspondente a duas grandes secas: as de 1932 e 1942. Naquele
tempo, ações de emergência sofriam restrições de modo e intensidade, conforme o
contexto nacional e internacional e os pactos firmados junto às oligarquias
estaduais.
Os campos próximos a Fortaleza
reuniram em torno de 5,5 mil pessoas. O do Buriti, por sua vez, programado para
uma lotação máxima de cinco mil, chegou a manter 18 mil no período de maior
intensidade. O comando desse campo coube ao tenente João de Pinho, do Exército
Brasileiro.
Nos tais campos de refugiados,
também denominados currais de flagelados,
na linguagem popular, houve registro de epidemias diversas, com óbitos em
massa, além de reações e levantes, qual registra Irineu Pinheiro, dia 13 de
maio de 1932, no livro Efemérides do
Cariri: Revolta no campo de
concentração de flagelados, no Buriti, lugar próximo do Crato cerca de
meia-légua. Limitou-se a uma das secções do campo o movimento subversivo, que
foi logo abafado.
Ainda que livres em certas horas
para circular fora do campo, os refugiados recebiam ração constituída de
derivado da mandioca (conhecido por farinha
do barco), de cor amarela, trazido do Estado do Pará, cuja má digestão
causava males digestivos e insistentes mortes. Em virtude da desnutrição e de
doenças, morria gente todos os dias, e um
caminhão passava recolhendo os corpos no final da tarde para jogá-los em valas
na parte alta do campo, afirma a historiadora Rosângela Martins.
Naquele ano, à época da moagem,
por volta do meio do ano, levas de refugiados saiam pelos brejos do sopé da
serra, na busca de alimento. Derivados da cana e o pequi auxiliaram sobremodo
na preservação das vidas, apesar de existir ordem expressa do comando do campo
para que os proprietários dos engenhos não fornecessem alimento aos famintos.
Alguns desobedeciam, a exemplo de José Pinheiro Gonçalves, no sítio Belmonte.
Segundo a historiadora Kênia Sousa Rios, os campos Eram locais para onde grande parte dos
retirantes foi recolhida a fim de receber do governo comida e assistência
médica. Dali não podiam sair sem autorização dos inspetores do Campo. Havia
guardas vigiando constantemente o movimento dos concentrados. Ali ficavam
concentrados milhares de retirantes a morrer de fome e doenças’ (in ‘Campos de Concentração no Ceará: isolamento
e poder na seca de 1932’).
O mesmo estudo informa que, entre abril de 1932 e março de
1933, pereceram mais de 1.000 refugiados somente no Campo de Concentração de
Ipu.
Ao final da malograda experiência
de controle social, no Cariri, restaram centenas de crianças órfãs, muitas
delas que aqui permaneceriam, abrigadas por famílias da Região.
(Ilustração: Foto de Wilton Junior, Estadão).
Texto muito bom. Parabéns
ResponderExcluirExcelente conteúdo, com narração clara, levando nossa imaginação a percorrer aqueles campos onde nossos irmãos nordestinos foram tratados como animais.
ResponderExcluirConfesso que me deu medo e asco...