terça-feira, 5 de fevereiro de 2019

A ilusão da dualidade

O Um é um nem mais, nem menos: o erro começa na dualidade; a unidade não conhece erro.  
                                           Hakim Sanā'ī, poeta persa e mestre sufi 

Insistir em confortar a Natureza, eis o pecado capital dos humanos. Andarem de mãos dadas com a destruição dos bens naturais qual leopardo à procura da próxima presa guardada no pensamento. Houvesse menos razão e maior intuição existiria no senso do equilíbrio a dominar o mundo. Perder-se-iam na inutilidade os valores estéreis da ganância e só o bem dominaria os instantes, tais perfumes da realidade, acima de todas as provações.

Porém há espécie de embriaguez no instinto de devastação que a tudo revolve feito animal desesperado à busca da carne que transporta no íntimo de si mesmo, sob o desespero de descobrir o Universo em destruí-lo, invés de aceitar viver em comum acordo com as normas do amor. Já foram tantas vezes assim que, entretanto, a fera tem hora que parece querer tomar conta do espaço. Sombras das sombras que transportam estradas afora, escodem na dúvida o faro da morte, que aceitam de conclusão, e olham o tempo menos consciente do que as presas os que devoram.

A orquestra executa as peças mais fervorosas e o rebanho contorce os corações endurecidos, inimigos entre si, aleijões da imaginação e cegos que nem querem ver jamais. Quando na verdade somos um e única criatura durante todo momento. Irmãos de irmãos, que desconhecem até quem pudesse pensar doutro modo e encobrem, na dança esquisita, a paz que viceja no sentimento e nas pessoas. Alimárias do destino inverso, criaram a guerra que lhes trará as dores do parto que nunca imaginaram.

...

Passados que sejam idos e vividos, longas jornadas os aguardam nas curvas do caminho, espreitas de esperança e felicidade. Porquanto persistiram luzes em diversas continentes e a renovação far-se-á nessa manhã esplendorosa.

(Ilustração: Na Cracóvia, um homem alimenta gansos).


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