Hakim Sanā'ī, poeta persa e mestre sufi
Insistir em confortar a Natureza, eis o pecado capital dos
humanos. Andarem de mãos dadas com a destruição dos bens naturais qual leopardo
à procura da próxima presa guardada no pensamento. Houvesse menos razão e maior
intuição existiria no senso do equilíbrio a dominar o mundo. Perder-se-iam na
inutilidade os valores estéreis da ganância e só o bem dominaria os instantes,
tais perfumes da realidade, acima de todas as provações.
Porém há espécie de embriaguez no instinto de devastação que
a tudo revolve feito animal desesperado à busca da carne que transporta no
íntimo de si mesmo, sob o desespero de descobrir o Universo em destruí-lo,
invés de aceitar viver em comum acordo com as normas do amor. Já foram tantas
vezes assim que, entretanto, a fera tem hora que parece querer tomar conta do
espaço. Sombras das sombras que transportam estradas afora, escodem na dúvida o
faro da morte, que aceitam de conclusão, e olham o tempo menos consciente do
que as presas os que devoram.
A orquestra executa as peças mais fervorosas e o rebanho contorce
os corações endurecidos, inimigos entre si, aleijões da imaginação e cegos que
nem querem ver jamais. Quando na verdade somos um e única criatura durante todo
momento. Irmãos de irmãos, que desconhecem até quem pudesse pensar doutro modo
e encobrem, na dança esquisita, a paz que viceja no sentimento e nas pessoas.
Alimárias do destino inverso, criaram a guerra que lhes trará as dores do parto
que nunca imaginaram.
...
Passados que sejam idos e vividos, longas jornadas os
aguardam nas curvas do caminho, espreitas de esperança e felicidade. Porquanto
persistiram luzes em diversas continentes e a renovação far-se-á nessa manhã esplendorosa.
(Ilustração: Na Cracóvia, um homem alimenta gansos).
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