De quando Lampião fracassou na invasão a Mossoró, sua maior empreitada e maior derrota, onde perderia, dentre outros companheiros, o irmão de que mais gostava, Antônio Silvino, daí entraria pelo Ceará com o malfadado bando.
Atabalhoadamente penetrava pelo sertão do Jaguaribe numa madrugada, estando uma noite, ele e os cabras mortificados de insana sede, e depararam casebre perdido no meio da mata. Bateram à porta donde escorria a réstia insuficiente de luz no escuro da imensidão.
Senhor maltrapilho lhes abriu a parte superior da porta da casa, sustentando às mãos uma pequena lamparina, que projetou a claridade ao terreiro defronte.
- Boa noite – falou o chefe do bando. – Nós queremos água de beber. O senhor pode trazer logo, pois estamos com sede?
Indo dentro da casa, o homem daí a pouco o regressou portando um copo de alumínio e caneca com água, que ofereceu ao famigerado bandoleiro. Antes, porém, deste degustar o primeiro gole, já aproximando da boca o copo, ouviu a vozinha agoniada de criança, no escuro próximo do dono da casa:
- Não beba não, meu senhor – gritou a criança.
Desconfiado, Lampião baixou o copo e perguntou a razão daquilo. Ao que recebe por resposta:
- É que somos leprosos, e vivemos aqui isolados no meio dessas capoeiras, longe de tudo e de todos.
Lampião não só bebeu da água, como forneceu aos cabras, à medida que recebia novos canecos do sertanejo, que lá dentro corria a buscar.
Satisfeitos da sede, enquanto arranjavam o jeito de pernoitar nas imediações, Lampião notou não só uma, mas duas crianças juntas do casal, dois garotos pequenos. Nisso indagou do pai se este gostaria que o facínora os conduzisse a Juazeiro do Norte e os deixasse sob os cuidados do Padre Cícero, que lhes daria educação necessária.
O pai combinou com a mãe e permitiu que os filhos seguissem com o bando.
Segundo contou Zé Alves, eles dois estudaram e receberam auxílio do taumaturgo juazeirense. Seguirem diante carreiras de Medicina e Engenharia, quando viveriam no Rio de Janeiro vida equilibrada e próspera.
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