Naquele ano, todavia, as condições se apresentaram desfavoráveis; o inverno não veio no tempo certo, esturricando o chão e despindo as matas.
Logo cedo, o casal anteviu os riscos de longo período seco. Assim preocupados, rezaram com força pedindo misericórdia dos céus lembrando o futuro dos filhos, motivo maior de preocupação.
A sucessão dos meses anunciava crise inevitável, quando consumiram os derradeiros mantimentos, aumentando a angústia. O que temiam se deu, pois a seca chegou intensa e possibilidades de escapar se mostraram poucas. No rosto das crianças, os primeiros sinais do abatimento.
Intensificaram ainda mais as orações, qual única alternativa. A fé gritava na alma daquela gente, que por dentro sentia emoções de que esperança viva. Queriam tão só descobrir de que jeito chegaria a salvação da família.
Certa manhã, no período mais escuro, quando abriram a porta, uma surpresa lhes aguardava, um boi gordo apareceu bem defronte da casa a bloquear o caminho dos que quisessem entrar ou sair. Tiveram de insistir a fim de afastar o animal, que retornava tantas vezes quantas saísse da porta.
Durante esse dia, a distração foi a presença do estranho visitante vindo de longe, dado inexistirem fazendas de gado na redondeza, e, menos que isso, pasto de manter vivos os bichos, há tempos desaparecidos.
No dia seguinte, foram iguais as circunstâncias. Os meninos puseram até apelido no bovino, enquanto tangiam querendo tirá-lo do terreiro. No outro dia, e êxito nenhum; o intruso permanecia bloqueando a porta do casebre, levando todos a estudar uma saída de achar pasto para alimentar a rês.
O caboclo conversou com a mulher e decidiu ir à cidadezinha perto, no propósito de saber encontrar o dono do boi.
Chegou à povoação e perambulou na busca das notícias, porém nada descobriu. Meio sem planos, viu do outro lado da praça a igreja, e lá se dirigiu.
No templo, procurou o pároco. Explicou os detalhes da situação difícil que atravessava, falou da insistência do boi em ficar junto da sua família, que mudara a rotina em que viviam.
Depois de alguns minutos em silêncio, o sacerdote perguntou ao caboclo se ele fizera as orações de pedir algum bem a Deus ou aos santos.
Nessa hora, chegou na lembrança do sertanejo a crise avassaladora que defrontava, a fome que sujeitava todos, as agruras do lar. Aflito, calado permaneceu como juntando os elementos do juízo.
Em seguida, o padre aconselhou ao homem que retornasse e abatesse o boi para dar de comer aos familiares, que se tratava do beneficio pedido.
Diante do conselho, ciente de haver merecido as bênçãos, supriu a fome e venceu a privação, graças às orações que fizera a Deus.
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