Nesse clima de repetidas ameaças e destruição, assustados, os rancheiros da redondeza cuidaram de montar plano intenso de mobilização a fim de liquidá-lo a qualquer custo.
Muitas armadilhas foram espalhadas em pontos estratégicos; todo tipo de mecanismo, possível e imaginável, artimanhas diversas, utilizaram, sem, no entanto, produzir resultados efetivos.
Juntos os esquemas, perseguidores seguiam à risca cada passo da fera, enquanto seus estragos prosseguiam pelas fazendas, gerando prejuízos sérios à atividade pastoril daquela área. Em muitos momentos, chegaram perto de alcançá-lo. Dias a fio, e ainda sem obter nada de concreto.
Após meses de investidas, os caçadores descobriram numa montanha distante a furna que servia de covil ao lobo e a sua companheira, local que sempre lhes defendia na implacável perseguição dos vaqueiros.
Em noite escura, diante da saída do parceiro à cata do alimento, a fêmea ali permaneceu, aguardando o seu retorno. Vieram, então, os vaqueiros, que agiram com rapidez, aprisionando-a.
Com isso, o lobo enfurecido acrescentou ainda mais os ataques ao gado das fazendas, aumentando o terror que imperava. Mas quando aprisionada a fêmea, o parceiro terminou vindo à mercê das armadilhas, em busca daquela que lhe dava o sentido de viver. Debalde, porém, os caçadores esperam sua presença.
Como passar do tempo, face à prisão da companheira, o lobo alterou os modos de agir, reduzindo pouco a pouco as cautelas antes infalíveis, rotinas e cuidados que lhe haviam permitido sobreviver. E numa noite de lua, quando chegou demasiado junto da jaula onde puseram a fêmea, para servir de isca, terminou por se entregar de frente aos perseguidores, que o abateram com relativa facilidade.
Guardei durante um tempo essa história, pois me despertou na busca das razões de tantos comportamentos em que animais manifestam espécie de senso moral, emoções raras, isso que seres humanos ditos racionais, calejados de sentimentos torpes, por vezes, no cotidiano, agem a níveis tão baixos, destituídos da menor civilidade, o que, decerto, envergonharia até bicho bruto que pudesse nos avaliar em iguais circunstâncias.
Na busca de tais razões, plantemos flores na longa estrada. Quem sabe um dia, teremos não só um lindo e imenso jardim, mas mentes menos duras e amalgamadas na leveza do perfume exalado na árdua caminhada e o sabor da conquista de ter insistido na crença de sermos humanos civilizados. Sem utopia, na realidade de cada dia façamos nossa parte.
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