Ano de 1959. Cuidava
da preparação para o Exame de Admissão ao Ginásio, espécie de vestibular de
calças curtas que existia nesse tempo logo após o curso primário. Estudava no
Ginásio Pio X, que funcionava em prédio da Praça da Sé, em Crato. Concorreria
entre muitos a uma vaga no Curso Ginasial do Colégio Diocesano. O ensino médio
significa quatro anos do Ginasial e três do Científico ou Clássico.
Mês de agosto. Dia 11 –
o Dia do Estudante. A UEC - União dos Estudantes do Crato, sempre marcava a
data com uma sessão de cinema a custo zero para a classe estudantil. Nesse ano seria
exibido Moby Dick, beleza de filme do
diretor americano John Huston, estrelado por Gregory Peck, adaptação do
escritor Ray Bradbury. E eu ali agarrado nos livros a fim compensar viagem que
fizera com meu pai a Recife, quando ele fora levar minha tia Elza e seu esposo,
Rafaelle, que vieram visitar a família e aqui demoraram algumas semanas.
Aquilo representou perder
a promoção da UEC, espécie de penalidade determinada por minha mãe, avaliando
que não deveria ter viajado, em contrário à opinião de meu pai. Segundo ela, o exame
de admissão seria bem mais importante do que conhecer o mar e a capital
pernambucana, duas fascinantes opção de criança interiorana que assim as considerou naquele momento.
Guardara, no entanto,
alguma culpa nisso, o que me ajudou a permanecer em casa no feriado, desconsolado
e estudando, invés de assistir ao filme lá no Cine Rádio Araripe, na Rua Nélson
Alencar. Ainda agora, enquanto resolvi baixar a cópia da tal superprodução,
hoje disponibilizada através da internet, para ver mais adiante, há cinquenta e
dois anos passados recordo aquele dia em que vivi pelo dever. Na sequência, a
mim só chegaria a notícia da festa, enormes filas e a aglomeração dos jovens na
sala ruidosa e cheia, dos prazeres da esperada exibição cinematográfica.
Qual nessa hora, tantas
e tantas vezes, no decorrer da existência, somos forçados a privilegiar
situações que não as que contemplariam o interesse imediato das paixões, no
sentido de obter ganhos de melhor qualidade. As nossas escolhas determinam,
pois, as matrizes do futuro destino, lição bem própria aos jovens a qualquer
tempo. Por isso selecionar alternativas talvez penosas e desgastantes do ponto
de vista pessoal, mas virtuosas e válidas no longo prazo, nutrirá de vitórias e
conquistas o caminho das jornadas humanas.
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