Enfim li o texto. Texto bom, tranquilo nas
avaliações, seguro do que diz, profundo nas interpretações da realidade. Um
diagnóstico do momento dessa nossa geração assoberbada de tantas alternativas,
tantas e nenhuma. O que indica a importância do mergulho de que fala, a
objetivação disso tudo, um carinho conosco próprios. Desejo flutuante parece
querer dominar o universo em volta. Contudo há de haver coisa melhor para
preencher esse tempo de tantos chamamentos e pouca realização pessoal. Às
vezes, extingo em mim os arquivos anteriores, faço um apagão geral das coisas
guardadas, querendo a qualquer custo me livrar do fardo de planos guardados.
Limpo as prateleiras e, qual sujeito irresponsável, adormeço noutras
pretensões. Funciona. Mudo os livros que leio, esqueço ideias antigas e
reelaboro os planejamentos dos dias seguintes. Sei, sim, que as pessoas andam
muito ocupadas com fantasias esplendorosas e estéreis. Cuido de alimentar a
proposta de Salomão de que triste é o homem que confiar em outro homem.
Mas mesmo assim não dou por perdido o horizonte. Reescrevo dentro de mim as
velhas histórias que ouvi, ou li, ou sonhei. Prendo minha atenção na liberdade
do que não existe mais. Aquele homem velho morreu no passado. Alimento o sonho
da virtude maior, além do orgasmo físico, das guloseimas ilusórias. E vou rindo
por dentro, na certeza de que hoje sou bem melhor do que já fui. E que a
solidão que constrange esses dias morrerão com eles, e seguirei feliz à busca
da minha felicidade, do mim mesmo. A gente se liberta primeiro dos outros,
depois de nós. Ando, pois, na disposição de achar o fio da meada desse tempo de
tantas e fartas armadilhas de sentimentos e gracejos televisivos. Enquanto aqui
do lado mora um amigo magistral pronto ao mergulho das novas possibilidades do
Ser. Arrasto os pés na noite dos sentidos e adormeço inocente das ações
nefastas da civilização de palha que o fogo do tempo devora a cada minuto. Até
escrever de um fôlego, sem dividir os parágrafos, nutre a vontade infinita de
acreditar nessas certezas todas de encontrar comigo e abraçar o eterno
companheiro que guardo silencioso ao meu lado, à esperar desse instante de Paz
e Felicidade que vive solto, viajando prudente no itinerário de todos os poemas
e todas as filosofias possíveis e imagináveis da Perfeição Absoluta. Paro aqui
e não releio o que escrevi, no afã de praticar toda a sinceridade.
Saúde e Paz.
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