Aqui me observo, outra
vez, a percorrer florestas de memórias à cata das lembranças da meninice, de
sonhos e saudades, gosto em que a gente que escreve insiste, a transformar
momentos anteriores em letras e histórias. E recordo ali na segunda metade dos
anos 50 quando publicaram álbuns de figurinhas das cenas de sucessos
cinematográficos, mania das crianças que acompanharam os lançamentos dessas
superproduções, quais Marcelino, pão e
vinho, Os dez mandamentos e Ben-Hur, títulos que preservo nas malhas
dessas recordações.
Tais películas demoraram
chegar, primeiro, avisadas pelos jornais do Sul e de Fortaleza, e pelos cartazes
afixados nas antessalas dos cinemas e pelas revistas de maior circulação,
naquele tempo, O Cruzeiro e Manchete. Custaram meses, talvez mais de ano, para serem
exibidas no Cariri.
Antes mesmo dos filmes
virem às telas, as livrarias e bancas já vendiam os álbuns e passavam a
fornecer os envelopes correspondentes, em geral com três figurinhas cada um, a corresponder
aos quadros distribuídos nas páginas. A garotada vibrava para preencher os
claros, havendo procura de multidões às remessas, que vinham e logo sumiam,
diante da ansiosa freguesia. Serviam de mídia aos lançamentos dos filmes e
dominavam o mercado das massas.
Depois de esgotadas,
as figurinhas viravam moeda de troca nas mãos dos aficionados, o que alimentava
um comércio paralelo nos aglomerados das praças e entradas das salas de
projeção. Algumas dessas estampas, devido à raridade, em alguns casos, atingiam
preços acima do normal, face ao desejo de se completar os álbuns, por vezes sob
a participação dos próprios pais dos meninos, porquanto a predileção não raro
sensibilizava mais outras faixas etárias.
Lembro bem das emoções
de haver, nessa época, pegado um ônibus e me deslocado, na companhia de Luciano
de Souza, rapaz que trabalhava com meus pais, à busca de saquinhos das figuras
do filme Ben-Hur, sucesso de
bilheteria de 1959, do diretor Cecil B. de Mille, e que, em 1956, dirigira Os dez mandamentos, ambos de amplo sucesso
no mundo inteiro.
Assim, em toda fase
existem os interesses das crianças, ilustrando seus dias através dos pequenos
mimos, prazeres inestimáveis e fugidios que nutrem de satisfação o maravilhoso período
da infância.
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