Sempre
que retornava, ali estava ele, 4.732, a lhe esperar de braços abertos, às vezes
com um buquê de rosas amarelas escondidas atrás das costas, para logo explodir
num riso franco, a mostrar todos os dentes, enquanto passava o outro braço pela
sua cintura feliz, altaneira. Um par perfeito, ela e 4.732. Ninguém de
consciência em ordem acrescentaria qualquer mácula àquele relacionamento de
promissão.
Viajasse,
jamais 4.732 deixaria de mandar-lhe mensagens variadas nos meios ao dispor,
épocas eletrônicas digitais, fossem de transatlânticos, aeroportos, shoppings, livrarias... Importava que
não lhe restasse esquecido o contato de sonhos que alimentavam qual raça de
bicho em extinção, amor de almanaque que vivia às 24 horas, nos tempos de
ecologia militante dessa fase da civilização, chovesse ou fizesse sol, razão
primeira de várias existências juntos.
Numa
dessas andanças por esse mundo, atravessou pelo juízo de 4.732, tipo de bólido
intruso, pesadelo doloroso, quando, em lampejo onírico, simulou-se um retorno
sem a presença de um deles dois, que ela houvesse buscado por ele sem achar,
frustração de não ter mais tamanho, contudo fora de quaisquer cogitações,
porquanto alimentavam durasse a relação infinitos mundos e séculos eternais.
Depois
daquilo, precedente funesto de haverem perdido contato ainda que em sonho,
4.732 desconfiou que algo de anormal pudesse conspirar, quem sabe para desaguar
num dia comum?, a ocorrer no fluir das tantas reencarnações por eles já
vivenciadas com êxito pleno, a ponto de nutrirem a certeza certa de um par
perene.
O
pensamento plasma acontecimentos quando fixado na intensidade suficiente. Mas
não se pretende considerar que essa realidade visse pelo pensamento. No
entanto, belo dia de verão, sol aberto, céu claro de poucas nuvens, brisa
quente no rosto suado, ela chega em casa após dia de trabalho intenso. Baixou
os pacotes sobre a mesa da sala de jantar, passou a vista pelos diversos
cômodos, e nada que denunciasse a presença constante de 4.732, caso permanecesse
na cidade.
-
Beeheeem!!!!?????... Beeeeeheeeeem?...
Estirou
o longo pescoço de dama distinta aos quatro cantos do quintal, e um vazio
dolorido de quando a pessoa amada se ausenta sem deixar vestígios além do
augúrio da saudade a perfurar vertigem na barriga dos medos abandonados antes
de encontrar a pessoa amada, esperança boa. Nenhuma vivalma fez o gesto de
entrar no palco do instante.
Ela
viu-se preocupada ao notar primeiros sinais de impaciência aparecendo por baixo
dos lençóis frios da cama por fazer da manhãzinha, na pressa de sair para o
trabalho. Esquecera de fechar a janela, nem perguntara a 4.732 quanto ainda
permaneceria em casa antes dos compromissos vespertinos.
Desceu
a escada sinuosa rumo ao porão. Nisso percebeu as lágrimas rasgando caminhos do
peito através dos olhos ressecados e descer rugas abaixo que lhe habitava o
rosto, nos trilhos laterais do nariz, preço que pagava por dormir pressionando
a face contra o travesseiro cheio de ervas do campo.
Na
solidão invasora que chegava de surpresa, apenas conseguiu recolher as roupas
secas do varal, antevéspera de chuva ligeira que lhe misturava o choro, na
fisionomia lamacenta dos derradeiros resquícios de maquiagem improvisada no
escuro da madrugada. As réstias escassas de luz trouxeram ao espelho marcas
finais da lembrança que para ela agora retornavam longe, visão preciosa de
4.732 a puxar uma mala pelo galpão da rodoviária barulhenta, despedida suave e
silenciosa dos dois, sob o testemunho absorto dele próprio.
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