sexta-feira, 1 de setembro de 2017

O rabi e o carpinteiro

Uma história que lemos no livro Lendas do povo de Deus, autoria de Malba Tahan, conta episódio na vida do Rabi Joshua, de quando ele, lá uma noite, sonhou chegar aos páramos celestes e ser recebido em festa pelos habitantes do Paraíso. Isto numa festa de rara felicidade, ainda mais a ele que tão zelosamente cumprira os deveres religiosos, fiel em tudo por tudo aos regimentos das santas leis. 

Em reconhecimento pelo tanto que exercera, Joshua, desde logo, seria conduzido aos lugares de honra do salão das luzes superiores, pouso de claridade, harmonia e beleza. 

Satisfeito com a recepção, sobremodo consciente do quanto praticara aqui neste chão, o rabino observava a solenidade, quando viu ser, também, a vez de receberem outro dos judeus de seu tempo, o carpinteiro Simão Anas, o qual mereceria destaque ainda maior do que o que recebera, a lhe causar espanto, face conhecer o carpinteiro e tê-lo como rude, analfabeto, descumprido das exigências sagradas e nunca haver visto que comparecesse à Sinagoga nos dias das obrigações. Lógico, para si, que algo errado acontecera, e nisto despertou do sonho. Ainda sonolento, examinou os aspectos do que sonhara. 


Dia seguinte, após os deveres de praxe, resolveu visitar Simão Anas, sempre recluso na humilde oficina de ponta de rua onde trabalhava. 

Aproximou-se, saudou o artífice e, depois dos cumprimentos, demorou quase nada deixando vir à tona pergunta que lhe mexia por dentro:

- Seu Simão, pode dizer quais as obras de caridade que pratica em gratidão às bênçãos de Deus?

O operário, meio sem jeito com a interrogação inesperada, veio dizendo: - Rabi, a maior dificuldade é o tempo que disponho. Vivo do meu trabalho, que toma o dia inteiro e entra pela noite. Isto impede até de eu ir visitar a Sinagoga e cumprir as obrigações da Lei.

E continuou: - Quando saiu da oficina, o quanto resta de força eu aplico no cuidado a meus pais, dois velhinhos que vivem sob meu teto e só têm a mim para cuidá-los.  São eles o motivo de minha existência, pois lhes tenho muita afeição – disse baixando as vistas contrariado.

Nessa hora, o sábio rabi Joshua bem Ilem apenas considerou, segundo Malba Tahan: - Que importa isso, meu amigo, que importa? Afirmo, ó carpinteiro!, afirmo pela glória de Moisés, que se algum dia, amparado pela misericórdia divina, tiver o meu nome incluído entre os eleitos do Senhor, terei muita honra de me sentar ao teu lado no Paraíso!

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