sexta-feira, 7 de agosto de 2015

Akira Kurosawa

Na época das sessões das quatro dos Cines Cassino e Moderno, em Crato, imaginar o dia em que pudéssemos alugar fitas, ou DVDs, e trazer em casa isso nada mais seria do que sonho fantasioso, coisa de mentes férteis quais a de Júlio Verne, modelo de ficção daquela época, anos 60 e 70, não tão distantes assim, mas que o tempo encobriu debaixo das cinzas televisivas do mau gosto e das novelas.

Hoje, contudo, ficou rotineiro passar numa locadora e escolher, entre milhares, os filmes de preferência e levá-los para assistir em casa, numa mágica propiciada pela tecnologia, chance de conhecer obras raras dos melhores diretores, o que ocorria apenas por coincidência de oportunidades, no passado.

Quem curte cinema de autor, jeito como denominam os filmes de arte, por exemplo, pode bem usufruir as criações dos diretores excepcionais, aqueles que utilizam com maestria a linguagem sob preocupações estéticas de refinado gosto.

Desses, merecem destaque alguns nomes: Ingmar Bergman, Louis Buñuel, François Truffaut, Michelangelo Antonioni, Vitório de Sica, Pier Paolo Pasolini, Jean Luc Godard, Glauber Rocha, Frederico Felini e Akira Kurosawa, numa amostra rápida.

É a propósito desse derradeiro diretor que queremos agora tecer algumas considerações: Akira Kurosawa estreou no cinema em 1942, com o filme Sugata Sanchiro. Conhecido no Ocidente através do filme Rashomon, com ele ganhou o Leão de Ouro no Festival de Veneza de 1951. Recebeu também um Leão de Prata, por Os sete samurais, a Palma de Ouro, do Festival de Cannes, por Kagemusha, a sombra do samurai; dois oscars, por Rashomon e Dersu Uzala; e mais um prêmio especial da academia que lhe foi conferido em 1990, por dois admiradores declarados - os cineastas Steven Spielberg e George Lucas.

Ao longo de sua carreira, tanto nos filmes de época (histórias de samurais), quanto nos que se desenrolam no Japão contemporâneo, o cinema de Kurosawa visa o desenvolvimento de uma consciência individual, o que um crítico, Donald Ritchie, chama de descoberta ou revelação da personalidade.

Kurosawa em momento algum renega suas origens japonesas, mas também aprecia o faroeste americano e a literatura russa clássica de Máximo Gorki e Dostoievski, os quais, junto de Shakespeare (Trono machado de sangue, baseado em Macbeth, e Ran, adaptado de Rei Lear), acham-se entre os autores que adaptou para a tela.

Porém há um filme de Kurosawa que consideramos sua obra-prima, Sonhos, encontrado fácil nas locadoras, onde narra oito histórias de seus sonhos, numa interpretação fílmica da rara beleza plástica, inesquecíveis aos que se dispuserem a conhecer. Criador torturado pela forma e, por isso, quase sempre insatisfeito com o que produzia, chegou a afirmar certa vez: A perfeição é impossível, e seguiu pelejando para realizar o filme ideal. Seus trabalhos podem não raiar o perfeito absoluto, mas acham-se dentre o que de mais belo e denso existe no cinema mundial de todos os tempos.

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