segunda-feira, 17 de novembro de 2014

O vendedor de flores

Em montanha de país distante vivia um camponês a colher flores silvestres e levá-las para vender na cidade mais próxima. Obediente a essa rotina, todos os dias acordava bem cedo, descia ao vale, cruzava um rio e buscava o mercado da cidadezinha para fazer o comércio. Ao final da tarde, ao retornar para casa, deixava nas águas do rio as flores que não vendera; dessa maneira trabalhava para a viver.

Certa vez, em época de grandes cheias, o camponês achou-se impedido de fazer o percurso rotineiro, porque o rio descia com muita água, tornando-se perigoso, intransponível. 

Na ocasião, sem alternativa, viu aparecer enorme tartaruga, que se ofereceu para levá-lo ao outro lado da indomável correnteza. Ele subiu no casco do animal e, para seu espanto, foi transportado às profundezas do rio, até suntuoso palácio em que morava a rainha das águas.

No reinado misterioso, achou-se em meio a uma animada recepção conduzida por linda princesa, esta agradecida pelas flores que toda tarde lhe chegavam lançadas pelo camponês às águas do rio, e que as acolhia na sacada do palácio como verdadeiras oferendas daquele homem. Desse modo, perante rico cerimonial de banquetes, música e folguedos, toda a corte se reunia para homenagear o visitante, em festa alegre que se estendeu por largo tempo.  

Depois, estabeleceu-se feliz convivência entre os dois, ele e a princesa, o que continuou meses seguidos, enquanto o vendedor de flores ali permaneceu. Todavia, ao sentir saudades dos velhos amigos que deixara para trás, decidiu retornar ao seu lugar de origem.

Procurou os superiores do reinado, contou-lhes os planos de partida, no entanto foi orientado de que deveria seguir sob a companhia de uma criança modesta, de singelos trajes, a quem, segundo combinado, caberia educar, missão outorgada pela princesa, dizendo ao camponês que perante qualquer necessidade recorresse ao menino e ele atenderia a todos os seus pedidos.

Chegados ao velho casebre onde morava, notou que havia limitação de espaço para habitarem os dois. Lembrou-se daquela recomendação da princesa, e pediu ao menino uma casa maior. De imediato viu posta à sua disposição uma vasta mansão de muitos cômodos.

Noutras ocasiões, não foi diferente. Sempre que precisava de alguma coisa, solicitava do menino maltrapilho. E nesse passo recebeu bens de riquezas mil. Desse modo, senhor de muitas posses, um dia quis que o menino melhorasse os modos de se apresentar, que vestisse roupas de acordo com as exigências dos frequentadores do meio em que viviam, cercados de fausto e nobreza, pois havia queixas das vestes maltrapilhas que usava nos salões luxuosos.   

Em virtude dessa imposição, o menino contrariou-se, entristeceu e, afinal, transmitiu ao camponês sua vontade de ir de volta para o rio, no que se viu atendido sem que o homem demonstrasse qualquer apego ao amigo fiel.

Porém, de um dia para o dia, logo depois da ocorrência, o rico proprietário se surpreendeu com o brusco desaparecimento das coisas que antes ganhara do garoto mediante a apresentação dos seus desejos. 

Ao perceber-se outra vez pobre de causar dó, apressado correu na direção do rio onde deixara o menino, mas, que desencanto!, observou que ele desaparecera sem deixar nenhum vestígio.      

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