quarta-feira, 5 de novembro de 2014

A lenda de Omulu

A deusa mais guerreira do Daomé, Nanã Buruquê, apaixonou-se por Oxalá, de quem pretendia conquistar o reino. Ele, por sua vez, não queria envolvimento com outro orixá, pois amava Iemanjá, sua mulher. Nanã, sabendo disso, fez vinho de palma, embriagou-o e seduziu-o, engravidando por via de conseqüência.

O filho de Nanã Buruquê e Oxalá, gerado na força da desobediência, recebeu o nome de Omulu e nasceu vitimado por feridas espalhadas pelo corpo, motivo suficiente a que a mãe o deixasse abandonado na praia, querendo que o mar lhe tirasse a vida. Avistado que foi por enorme caranguejo, o bebê chegou a perder pedaços da sua carne, ferido que foi pelas pinças do agressivo animal.  


Quando veio a maré alta que começou a banhar o recém-nascido, Iemanjá ouviu-lhe o choro e veio em sua busca, deparando-se com criança indefesa, sagrando e quase morta. Tomada de profunda compaixão, pegou-a nos braços, salvando-a de afogamento iminente.

Ao observar a redondeza, Iemanjá localizou gruta deserta que nela acomodou Omulu. Improvisou berço rústico de palhas de bananeira, instalando-o e passando a tratá-lo qual legítimo filho, protegendo-o, alimentando-o com pipoca sem sal nem gordura e aliviando-lhe as dores dos ferimentos.

Desde então, sempre que os afazeres de seu reinado permitiam, vinha à praia e cuidava do pequeno, amamentando-o e banhando-o nas águas do mar.

Enquanto sozinho, Omulu percorria as matas e aproximava-se dos bichos seus habitantes, dentre eles as cobras, com quem estreitou amizade.

Numa das visitas que recebeu da Rainha do Mar, Omulu apresentou-se cercado de répteis, dentre esses uma perigosa cobra coral, a sua preferida. Ao admirar o poder que ela tinha de dominar as serpentes, Iemanjá observou também que a criança crescera e transformara-se em jovem belo, sadio e disposto.

Já homem feito, Omulu decidiu conhecer o mundo. Reuniu alguns poucos pertences, bornal, bastão e cabaça de água, acompanhou-se de dois cachorros e partiu com destino ignorado, vagando pela face da Terra.

Viajava na condição de esmolé, mendigando o sustento e dedicando-se à cura dos enfermos e ao combate das epidemias que castigavam as aldeias. Quando alimentado, mesmo assim continuava na cata de alimentos, a fim de repartir com os irmãos necessitados, convertendo a jornada em serviço de desapego e caridade.

As funções de Omulu tornaram-se missão de trazer conforto aos desvalidos que encontrasse. Isso, porém, provocou reações desencontradas nas pessoas ruins que, egoístas, nalgumas ocasiões lhe recusavam auxílio. Por causa disso, contrafeito, o orixá resolveu embrenha-se nas matas. Nesse tempo, conheceu Ossanha, a deusa responsável pela vegetação. Dela aprendeu o jeito de trabalhar o poder das plantas e desenvolveu o dom da cura. Hoje, rico dos conhecimentos da Natureza, segue vagando, ministrando os benefícios da saúde a quem merece. 

Na cultura católica, para uns, o santo representa São Roque, e para outros, São Lázaro.

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