quarta-feira, 24 de dezembro de 2025

À busca de interpretações


Qual nas histórias sem fim, desse jeito as criaturas humanas e o instinto de compreender as causas outras de um tudo onde preencher de existência os continentes distantes. Desde sempre, buscam, nas malhas dos relacionamentos, motivos de simplificar as intenções. Sujeitam-se aos valores que repetem, dividem com os demais e sustentam, nas teses fantasiosas de si. Querem juntar em única visão a paisagem universal e nisso viajam pelas ilusões feitos seres incontrolados.

Nem de longe, por isso, resolvem de tudo equações e desafios. Criam, é verdade, lastros enormes das respostas que ocorrem à medida do Tempo. Sabem, no entanto, isto ser o fruto amargo dos pensamentos/sentimentos, espécies de entes esquisitos que habitam o firmamento e querem dominar as tais criaturas próximas. Diante da tal matéria bruta, lugar em que ora vivem, reproduzem cenas incontáveis dos dias, a buscar o senso pela estrada longa à sua frente.

Mesmo perante território enigmático, superam normas antigas de padrões e experiências, tateando o escuro deste chão. Recorrem aos códigos gravados pelos semelhantes; trabalham, refazem, reúnem, e anseiam desvendar, porém cativos da escuridão donde vêm. Daí, face ao território inabitável da dúvida, ao término, lhes sobra aceitar o que deixarem aos pósteros.

São relíquias das tradições, dos livros, lembranças vagas daqueles mais astuciosos, dispostos a fervilhar as cinzas e contar do que dali interpretam. Conquanto façam nascer novos símbolos, letras, números, palavras, textos, persistem aos olhos da Eternidade autores de equações quase nunca suficientes. Transitam pelos ares feitos componentes absurdos das lendas deixadas incompletas nas arcas dos destinos.

Dos saltos das gerações, provêm emissários perspicazes, tipos isolados nas noites do mistério tão só a colher fragmentos esquecidos nas calçadas da História, de quem talvez possam avaliar seus segredos e mitos. Bem suportam cruzar os mares do desconhecido, todavia sujeitos a sucumbir, porquanto o fazem no barco do esquecimento. Visto destarte, outra sorte há de ter esses aventureiros nas asas da imensidão.

terça-feira, 23 de dezembro de 2025

Postais da inexistência


Casarões esquecidos na imensidão do que ficou atrás falam disso, do quanto ficara grudado nas cores de antigamente e que insistem regressar ao clarão das madrugadas atuais. Sequências inteiras das praias lá do passado persistem intactas nesses azuis de eternamente. São as próprias pessoas tais interrogativos firmados em si, dentro dos condados então vividos, que fixaram raízes quais princípios do inevitável da imortalidade.

Parágrafos inteiros narram histórias sem limite que pousaram naquelas galhas ressequidas dessas árvores da mais imensa floresta, preservadas a ferro nas lembranças das gentes e dos objetos. Isso do Tempo, que fascina sobremodo a quantos queiram nele mergulhar. Algo assim que nem mistério em vida, a contornar solidões inteiras. Enquanto isto, mil pendores invadem a torre dos universos e as exploram demasiado ao teto das contrições.

Daí nascem os roteiros dos tantos amores espalhados nesse vendável de súplicas que transformaram no simples gesto de estar aqui, pisar as horas e sobreviver ao impossível. Multidões encapuzadas vagueiam pelas frestas disso, do que buscamos compreender e tornar íntimo das palavras. Saem silenciosas no eito dos céus, a deixar rastros profundos na alma das gentes em movimento. Mesmo que tanto, sempre regressam noutras aventuras, demonstrando o poder da certeza aos braços da imensidade no caos das expectativas ainda em formação.

Conquanto cientes dessas longas planícies que haverão de cruzar, edificam a ermo paisagens sucessivas e alimentam sonhos de trazer no íntimo a força de continuar a todo custo. E cuidassem disto, de revelar o firmamento que já carregam na essência, transitariam pelo inesperado e saberiam permanecer nesse cosmos de razões absolutas como quem desfaz o percurso das tramas e dos desejos.

Quais protagonistas de espetáculos jamais imaginados, sustentam essas condições de usufruir da existência, herdeiros privilegiados e sujeitos de orações controladas dalgum lugar dos universos.

segunda-feira, 22 de dezembro de 2025

Os versos II


Recordo a fase de quando viemos morar em Crato vizinho à serraria que meu pai iniciara em sociedade com o meu Tio Quinco, irmão de minha mãe, ali pelos inícios da década de 50. Dada a proximidade, era minha: Escola, casa e serraria. Lá conhecia todos os operários, fazendo-os meus amigos. Zé Doca. Assis. Edmilson. Mestre Manoel. Mestre Elias. Joza. Pedro. Chapeuzinho. Mestre Mulato. Borginho. Prancha. Zé de Sousa. Gregório. Mestre Raimundo Nascimento. Eles aperfeiçoavam a madeira e faziam linhas, caibros, ripas, portas, janelas, etc.

Às segundas-feiras, nos intervalos do expediente, havia quem deles fosse ao centro da cidade e comprasse cordéis, sempre vendidos na feira semanal daqueles dias. Nisso, no decorrer da semana, ao médio dia, um deles fazia a leitura de um desses livretos de feira, a que denominavam versos. E eu ali, deitado na raspa das madeiras, escutava atentamente as histórias. Atento, logo que concluíam a leitura, (já sabiam), de pronto corria e pegava o verso lido guardando comigo, nisto formando uma coleção. Durante um bom tempo foi minha primeira biblioteca, que escondia, clandestinamente, na gaveta da mesa das refeições lá de casa, na sala de janta.

Nalgumas ocasiões, eles pediam de volta até fazerem a releitura dos mais apreciados. Eram produzidos em larga escala pela Gráfica Sáo Francisco, em Juazeiro do Norte, escritos por autores destacados da oralidade nordestina, entre os quais Patativa do Assaré, Cego Aderaldo, Leandro Gomes de Barros, João Martins de Athayde, dentre outros. Ainda lembro alguns dos títulos: As proezas de João Grilo, O romance do Pavão Misterioso e Triste Partida. Em sua maioria, tinham as capas ilustradas com xilogravuras.

Apreciava com gosto as histórias, as rimas, o ritmo, e na voz sertaneja dos operários isto se tornava por demais misterioso, diferente das aulas da escola que também tratavam de livros. Hoje, então, quando sinto na literatura um mundo que me fascina, recordo esse primeiro instante de haver conhecido as letras também da cultura nascida na alma do povo do Sertão.

Reticências do Absoluto


Isto do qual cravejar caldeiras antigas na intenção de construir naves que os levem a estrelas até então desconhecidas; nisto, neste exato momento, o mundo lá fora prosseguirá. Noutras palavras, viajar pela imaginação na forma de seres doutras dimensões é pousar à sombra de árvores de pedra na espera da sorte grande qualquer dia. São eles, os tais peregrinos dos desertos os mais imensos, largados à procura de, num tempo outro, descobrir o território das consciências e nele habitar enquanto defrontam, desfeita em luzes, a lonjura da Eternidade. Sujeitos, contudo, aos percalços dessa imensidão, apenas observam impávido, devagar, o traço profundo das horas que disso lhes desperta, pouco a pouco, os olhos da vontade que havia de vir certa feita.

São inúmeros por demais, exemplos assim de aventureiros à cata do destino. De hora a outra, desfazem os agasalhos e dormem de vez nas asas da imaginação. Sabem obedecer a determinações dalgum lugar, qualquer tempo. Ser-se-iam meros artífices de uma força soberana em movimento constante pelas entranhas do Tempo. Outra alternativa, no entanto, lhes resta que significa achar os marcos definitos da longa estrada além desse Infinito.

Exercem papeis a bem dizer intransferíveis. Superpõem longas histórias aos mínimos acontecimentos do dia. Mesmo que tanto, outros que se sucedem ficam por conta do inesperado. Sei que ouviram, nalguma vez, o que teriam de experimentar. Vagam, por isso, ao redor dos séculos, deixando de lado paixões e devaneios, todavia cientes de encontrar dentro si, alguns instantes, leis antigas, pois as mantêm na própria carne ao fervor do tempo inteiro. Sendo viventes da relatividade, observam transformações que sustentam admirados o sequenciar das consequências neles mesmos. A escola é isto, aprender na existência o que já trazem consigo desde sempre.

Destarte, personagens de uma ópera significativa, preenchem tais caldeiras desse mistério, e aceitam de bom grado o que se lhes aproxima e satisfaz, na medida dos segmentos posteriores.  

(Ilustração: Botticelli).

domingo, 21 de dezembro de 2025

O prenúncio das incertezas


E nisso se chegar até aqui. Tocar em frente a barreira do som. Substituir na dúvida a inevitabilidade dos acontecimentos. Daí nascerem palavras e delas pensamentos; em seguida, quem sabe?, os sentimentos. Conjecturas às margens desse rio inolvidável dos destinos... Sonhar... Cantar... Respirar... Enquanto as mesmas aves sobrevoam o Infinito e dormem ao sabor das madrugadas intensas. Bem isso, fagulhas que percorrem lastros enormes de perquirições, contudo já agora prenhes dos novos momentos que lhes surgem num abrir e fechar de olhos.

Saber-se além das eras e nelas existir. Saturar as normas dos percalços e andar sobre trilhas e despenhadeiros quais secundários detentores das outras condições que ficaram ao longo das estradas do sem fim. Página a página, construir arcas sucessivas de outras histórias. Senhores, portanto, da imensidão depositada nos mesmos corações de antigamente. Esses pergaminhos do inextinguível daqui buscam sempre o que possam encontrar pelas sombras dos tais hemisférios.

Fossem, pois, argumentar diante do Eterno e, na certa, definiram continuar vidas a fora no barco dos contentes. Olhares postos nas curvas da servidão, conteriam no íntimo essa vontade insana de prosseguir aos picadeiros da fama. Eles, nós, quem fosse, avistariam, decerto, razões inúmeras de só observar insistentes o horizonte em forma de luzes inimagináveis. Prudentes autores dos romances inesquecíveis, voltar-se-iam à esperança, todavia ainda que perante as dúvidas e os impactos do chão.

Astronautas do inexistente, percorrem sabores incautos, mesmo assim. Deslizam a meio do firmamento cientes do quanto lhes aguarda logo ali, porém astutos, miraculosos, cobertos dos velhos lençóis de noite as mais escuras que sejam. Às vezes, algozes; noutras, santos, fieis, relíquias de litanias puras. Bem isto, frutos da necessidade constante de revelar tais princípios da imortalidade, contêm na própria essência o instrumento de todos valores que os trarão de volta depois de cruzarem mares e mares sem conta. Cientes disto, apenas exercitam a consciência, no meio dos desafios que os levam, à espera dos céus.

sábado, 20 de dezembro de 2025

Mesmo que assim não seja


Há que se viver dalgum jeito diante de tudo enquanto. Falam de portais, iluminação, lugares santos na alma, luas místicas, dias de paz...Resumem grosso modo as mil compreensões, vagos territórios até então desconhecidos, porém férteis nas consciências das pessoas. Um pudor estonteante adormece no coração das pessoas e restam filosofias cadenciadas a falar disso, da clareza que acompanha os sentimentos.

A esse ente, sobrepeso de tantos outros, segue o instinto de preservar os destinos e chegar lá um tempo na ilha da solidão do imaginário, onde impera sobremodo o tal poder de continuar vidas e vidas. Disso provêm as sociedades, reunião dos fragmentos de histórias guardadas na lembrança dos livros e salas de aula. O herói dos infinitos que percorre sem jeito o panteão das academias, o solo dos poderes além do véu, e aceitam de bom grado padecer e perpetuar a espécie.

Pudessem avaliar o espaço preenchido das vivências mais antigas, seres superiores viveriam entre as massas e contariam delas o sentido da realização. Juntar palavras dissolve, pois, o princípio das encontrar o  que alimenta gerações inteiras. Fugir sem ter aonde significa, pois, bendizer as cicatrizes da culpa e trazer de volta os mártires, serviçais do egoísmo avassalador de eras perdidas.

Quer-se recontar doutro padrão a herança daqueles desaparecidos, e transformar a expectativa das civilizações em moeda de troca dos enlaces que virão logo adiante. Os jogos e tabuleiros falam dos restos que aqui ficaram largados ao vento. Temos de identificar o rumo de abordar o mistério e fazer dele a pedra de toque do que ainda vem acontecer a qual instante.

No somatório das visões de reis e senhores do palco, sempre haverá alternativas de estruturar os roteiros. Ninguém estará a margem do que virá. As marcas esquecidas pelos vagões da memória demonstram a realidade dos encontros inesperados das humanas soluções em andamento.

sexta-feira, 19 de dezembro de 2025

Cativos da Liberdade


Seres que tais, visagens soltas em mundos desconhecidos, padecem qual tempo desta fome das horas. Sei que vivem aventureiros, porém submissos por demais ao inesperado. Vagam feitos galáxias sem fim das memórias guardadas consigo dos transes outros deixados lá no íntimo do passado. Andam cadenciados pelos campos, olhos fixos do Infinito que devora sem razão aparente. Esperam, contudo, existir nalgum dia, senhores das floresta imaginárias que lhes percorrem sem cessar os escombros. Transitam, que conheço, nesse mar de tantas aves, tantas nuvens, nem de si reconhecendo, no entanto, o motivo original de todas as letras.

Bem esse retrato fiel do anonimado das muitas criaturas em volta de imensas fogueiras de sentimentos onde existem. Vislumbram tratar do instinto e padecem dos arrependimentos. Sobrevivem a troco de, lá num momento distante, refazer os percursos de sonhar nas noites felizes.

Mas o que nos compete será sempre distinguir entre agir e aceitar as consequências. Saber-se autor dos próprios destinos. Saborear das cores a pureza do firmamento. Pisar nos astros e aceitar as luzes dos objetos de que fazem parte inestimável.

Livres, libertos, se não de si, dos gestos da imensidão enigmática. Lapidar das palavras os argumentos, no fervor das dúvidas. Eles, parágrafos inteiros cheios de ânsias e virtudes, histórias e aventuras errantes lá do mesmo coração, constroem os monumentos das civilizações e habitam esse universo inteiro da beleza em forma de desejos, e recebem de bom trado os frutos das contingências do quanto buscam. Independentes, pois, do que sejam, só em continuar adquirem o senso da História e voltam a viver, de novo, consigo pelas malhas do mistério donde vieram.

Nisso, agem sem medidas aos trâmites do Destino e gozam da beatitude trazida lá de dentro, das malhas sombrias dessas visões até então feitas de esperança e fé.