domingo, 28 de dezembro de 2025

Mitos e visões


De mesma vontade de tantos vêm os tais instrumentos de acreditar nos sonhos desde sempre. Na longa caminhada, filamentos descem dos céus e preenchem de cores os sentimentos, demonstrando sua força que domina os mundos. A meio disso, os habitantes de estrelas se põem a observar o Cosmos e percorrem esses longos corredores dos hemisférios, cientes, a bem dizer, donde chegar-se-á momento destes. Nascem lá de dentro das nuvens. Descem contrafeitos ao panorama dos momentos e anotam na memória traços inesquecíveis, guardados nas ilhas da consciência.

Perante quais lendas, descobrem existência até então que viviam tão só nas impressões gravadas nas ausências. Superpõem vagas lembranças dalguns seres com quem trocaram códigos de muitas epopeias e agora andam lado a lado. Das muitas e mais variadas espécies, são entes a procurar e bem dizer o que significa aquilo enviesado no íntimo das mesmas criaturas que ora estejam do seu lado, aqui. Blocos de significados mostram características diversas. Às vezes, animais, visagens, flores, outros humanos trajados de fantasias e gestos.

Qual o quê, viajam pelas alturas e permanecem escondidos nas sombras e nos bosques. Sobrevoam o teto da imaginação e resistem a duras penas aos mergulhos de quantos já sumiram, diante dos dias incontáveis deste chão. Fossem revivê-los no fulgor das criaturas, desvendariam, de certeza, todas as aventuras humanas dos infinitos transitados antes. Mas significam, por isso, as paisagens das entranhas de si e constroem esses palácios do mistério.

Andam soltos em longas alcateias deixadas ao leu da sorte. Tramam, exercem papeis estoicos, transparecem superpostos na caligrafia dagora, enquanto novos acontecimentos exercem iguais oportunidades aos que desfazem no Tempo suas mesmas histórias. Descritas, pois, várias situações, eis que nos vemos face a face conosco próprios, a interpretar códigos sem final ali contidos nas inúmeras bibliotecas deste mundo.

(Ilustração: Aldemir Martins).

sábado, 27 de dezembro de 2025

As muralhas do Inconsciente


A que é que se destina... Vencer o inevitável e perlustrar despenhadeiros abaixo, à busca do sentido dessas estradas inolvidáveis; viver sem conta; continuar rios acima no rumo do Infinito. Horas gerais isto que toca o coro dos céus, na busca incessante dos meios necessários de cruzar tantas muralhas aqui bem ao lado disso, das horas, arcabouços de tantas jornadas inscritas na alma, gosto fiel dos sentimentos, mantém laços próprios das existências. Mas nisso eis o trem de alimentar seus sonhos ora em movimento.

Quantas pessoas nessa paisagem que se renova constantemente. E em cada uma as largas histórias, seus fracassos, angústias, definições, esperanças, planos, desejos, sobrevivência inédita de estar aqui aos sóis de todo tempo. Eles todos, milhões, bilhões, habitantes do cosmos a meio dos princípios até então desconhecidos.

Nisto, numa sequência natural, lá um dia dão de cara com o desconhecido de si próprio, submissos ao poder do mistério. Pisam as antigas veredas de tradições inesquecíveis, e mergulham pelas sombras dos astros. Querem descobrir a que estejam e aonde irão. Conquanto isso, dobras dessas ansiedades contundem, indagam das palavras, dos taumaturgos, das cartas, o segredo das consciências acesas, feitos protagonistas originais do que os traz até nestante.

Carcomem do passado o farnel de longas caminhadas, pedaços que foram de películas largadas no eito e queimadas ao vento. Ouvem, das epopeias, as virtudes, os percalços, feitos pequeninos seres, no entanto eternos, dos padrões universas. Houvessem outros autores, e seriam assim personagens vagos doutras histórias, doutros romances, de novas filosofias. Outrossim, hão de aceitar, queiram ou não, o instinto das interpretações que já transportam aos ombros. Submissos, pois, nos caminhos da continuidade, abrirão, certa feita, o coração e irão aceitar de bom grado todos aqueles lances das infinitas aventuras agora cativas da memória, após demasiados experimentos de onde fizeram morada.

sexta-feira, 26 de dezembro de 2025

Desde quando tudo aconteceu


Teto das alturas, e um mundo aos próprios pés. Espaço intermediário entre sonhar e existir, pelas folhas do Tempo, todos eles percorrem o imediato, ainda sob o crivo de um líquido desconhecido que nascem das primeiras flores. E fugir de volta aos lugares de longe, às madrugadas, ao silêncio das ruas desertas. Histórias mil a ser contadas. Uma geração inteira a contornar de saudade aquilo tudo, e reviver as agruras de inteira solidão agora presente.

Pudessem haver anotado o quando disto acontecer, quase que o silvo das cigarras faria sentido de tudo querendo viver nas horas extremas os espetáculos de então visitados. Espécie de abstração do que nunca se dera, assim sobrevivem multidões inteiras, largando pelos universos a impressão de valores, desejos e dúvidas. Nisso, recolhem as normas do primeiro amanhecer, depois de passarem séculos inteiros de escuridão.

Quaisquer impulsos e, de novo, a memória surpreende novas revelações, deixando ao vazio pura intenção de continuar aqui e permitir que palavras falem, invés dos gestos até agora adormecidos em saudade. Senhores, portanto, de preservar o panorama das quantas histórias guardadas no firmamento, resistem a custo ao furor do inexistente. Bem isto, das lembranças dos tantos heróis, ídolos de horas afetuosas espalhas pelos campos, ideias e certezas expostas ao relento de épocas férvidas, colossos do coração.

Crer-se ficarem certas verdades escondidas nesse inverno de consciências. Nas músicas, nos livros, nas festas apagadas, circunstâncias dos dias numa só paisagem indomável de circunstâncias inscritas nas antigas paredes da existência. Num abrir e fechar de olhos, qual contornar o esquecimento, agora refazem o percurso lá dentro das vidas e alimentam de tudo o sentimento de eternidade há tempos, na alma dos tais protagonistas. Habitantes, por isso, do vasto continente desses fulgores, ora contêm de sempre a vontade ferrenha de estar onde estejam, sem, no entanto, abandonar os amores de antes. Acreditar no gesto das convicções, pois, e reunir em único ser a voz plena dos melhores momentos vividos.

quarta-feira, 24 de dezembro de 2025

À busca de interpretações


Qual nas histórias sem fim, desse jeito as criaturas humanas e o instinto de compreender as causas outras de um tudo onde preencher de existência os continentes distantes. Desde sempre, buscam, nas malhas dos relacionamentos, motivos de simplificar as intenções. Sujeitam-se aos valores que repetem, dividem com os demais e sustentam, nas teses fantasiosas de si. Querem juntar em única visão a paisagem universal e nisso viajam pelas ilusões feitos seres incontrolados.

Nem de longe, por isso, resolvem de tudo equações e desafios. Criam, é verdade, lastros enormes das respostas que ocorrem à medida do Tempo. Sabem, no entanto, isto ser o fruto amargo dos pensamentos/sentimentos, espécies de entes esquisitos que habitam o firmamento e querem dominar as tais criaturas próximas. Diante da tal matéria bruta, lugar em que ora vivem, reproduzem cenas incontáveis dos dias, a buscar o senso pela estrada longa à sua frente.

Mesmo perante território enigmático, superam normas antigas de padrões e experiências, tateando o escuro deste chão. Recorrem aos códigos gravados pelos semelhantes; trabalham, refazem, reúnem, e anseiam desvendar, porém cativos da escuridão donde vêm. Daí, face ao território inabitável da dúvida, ao término, lhes sobra aceitar o que deixarem aos pósteros.

São relíquias das tradições, dos livros, lembranças vagas daqueles mais astuciosos, dispostos a fervilhar as cinzas e contar do que dali interpretam. Conquanto façam nascer novos símbolos, letras, números, palavras, textos, persistem aos olhos da Eternidade autores de equações quase nunca suficientes. Transitam pelos ares feitos componentes absurdos das lendas deixadas incompletas nas arcas dos destinos.

Dos saltos das gerações, provêm emissários perspicazes, tipos isolados nas noites do mistério tão só a colher fragmentos esquecidos nas calçadas da História, de quem talvez possam avaliar seus segredos e mitos. Bem suportam cruzar os mares do desconhecido, todavia sujeitos a sucumbir, porquanto o fazem no barco do esquecimento. Visto destarte, outra sorte há de ter esses aventureiros nas asas da imensidão.

terça-feira, 23 de dezembro de 2025

Postais da inexistência


Casarões esquecidos na imensidão do que ficou atrás falam disso, do quanto ficara grudado nas cores de antigamente e que insistem regressar ao clarão das madrugadas atuais. Sequências inteiras das praias lá do passado persistem intactas nesses azuis de eternamente. São as próprias pessoas tais interrogativos firmados em si, dentro dos condados então vividos, que fixaram raízes quais princípios do inevitável da imortalidade.

Parágrafos inteiros narram histórias sem limite que pousaram naquelas galhas ressequidas dessas árvores da mais imensa floresta, preservadas a ferro nas lembranças das gentes e dos objetos. Isso do Tempo, que fascina sobremodo a quantos queiram nele mergulhar. Algo assim que nem mistério em vida, a contornar solidões inteiras. Enquanto isto, mil pendores invadem a torre dos universos e as exploram demasiado ao teto das contrições.

Daí nascem os roteiros dos tantos amores espalhados nesse vendável de súplicas que transformaram no simples gesto de estar aqui, pisar as horas e sobreviver ao impossível. Multidões encapuzadas vagueiam pelas frestas disso, do que buscamos compreender e tornar íntimo das palavras. Saem silenciosas no eito dos céus, a deixar rastros profundos na alma das gentes em movimento. Mesmo que tanto, sempre regressam noutras aventuras, demonstrando o poder da certeza aos braços da imensidade no caos das expectativas ainda em formação.

Conquanto cientes dessas longas planícies que haverão de cruzar, edificam a ermo paisagens sucessivas e alimentam sonhos de trazer no íntimo a força de continuar a todo custo. E cuidassem disto, de revelar o firmamento que já carregam na essência, transitariam pelo inesperado e saberiam permanecer nesse cosmos de razões absolutas como quem desfaz o percurso das tramas e dos desejos.

Quais protagonistas de espetáculos jamais imaginados, sustentam essas condições de usufruir da existência, herdeiros privilegiados e sujeitos de orações controladas dalgum lugar dos universos.

segunda-feira, 22 de dezembro de 2025

Os versos II


Recordo a fase de quando viemos morar em Crato vizinho à serraria que meu pai iniciara em sociedade com o meu Tio Quinco, irmão de minha mãe, ali pelos inícios da década de 50. Dada a proximidade, era minha: Escola, casa e serraria. Lá conhecia todos os operários, fazendo-os meus amigos. Zé Doca. Assis. Edmilson. Mestre Manoel. Mestre Elias. Joza. Pedro. Chapeuzinho. Mestre Mulato. Borginho. Prancha. Zé de Sousa. Gregório. Mestre Raimundo Nascimento. Eles aperfeiçoavam a madeira e faziam linhas, caibros, ripas, portas, janelas, etc.

Às segundas-feiras, nos intervalos do expediente, havia quem deles fosse ao centro da cidade e comprasse cordéis, sempre vendidos na feira semanal daqueles dias. Nisso, no decorrer da semana, ao médio dia, um deles fazia a leitura de um desses livretos de feira, a que denominavam versos. E eu ali, deitado na raspa das madeiras, escutava atentamente as histórias. Atento, logo que concluíam a leitura, (já sabiam), de pronto corria e pegava o verso lido guardando comigo, nisto formando uma coleção. Durante um bom tempo foi minha primeira biblioteca, que escondia, clandestinamente, na gaveta da mesa das refeições lá de casa, na sala de janta.

Nalgumas ocasiões, eles pediam de volta até fazerem a releitura dos mais apreciados. Eram produzidos em larga escala pela Gráfica Sáo Francisco, em Juazeiro do Norte, escritos por autores destacados da oralidade nordestina, entre os quais Patativa do Assaré, Cego Aderaldo, Leandro Gomes de Barros, João Martins de Athayde, dentre outros. Ainda lembro alguns dos títulos: As proezas de João Grilo, O romance do Pavão Misterioso e Triste Partida. Em sua maioria, tinham as capas ilustradas com xilogravuras.

Apreciava com gosto as histórias, as rimas, o ritmo, e na voz sertaneja dos operários isto se tornava por demais misterioso, diferente das aulas da escola que também tratavam de livros. Hoje, então, quando sinto na literatura um mundo que me fascina, recordo esse primeiro instante de haver conhecido as letras também da cultura nascida na alma do povo do Sertão.

Reticências do Absoluto


Isto do qual cravejar caldeiras antigas na intenção de construir naves que os levem a estrelas até então desconhecidas; nisto, neste exato momento, o mundo lá fora prosseguirá. Noutras palavras, viajar pela imaginação na forma de seres doutras dimensões é pousar à sombra de árvores de pedra na espera da sorte grande qualquer dia. São eles, os tais peregrinos dos desertos os mais imensos, largados à procura de, num tempo outro, descobrir o território das consciências e nele habitar enquanto defrontam, desfeita em luzes, a lonjura da Eternidade. Sujeitos, contudo, aos percalços dessa imensidão, apenas observam impávido, devagar, o traço profundo das horas que disso lhes desperta, pouco a pouco, os olhos da vontade que havia de vir certa feita.

São inúmeros por demais, exemplos assim de aventureiros à cata do destino. De hora a outra, desfazem os agasalhos e dormem de vez nas asas da imaginação. Sabem obedecer a determinações dalgum lugar, qualquer tempo. Ser-se-iam meros artífices de uma força soberana em movimento constante pelas entranhas do Tempo. Outra alternativa, no entanto, lhes resta que significa achar os marcos definitos da longa estrada além desse Infinito.

Exercem papeis a bem dizer intransferíveis. Superpõem longas histórias aos mínimos acontecimentos do dia. Mesmo que tanto, outros que se sucedem ficam por conta do inesperado. Sei que ouviram, nalguma vez, o que teriam de experimentar. Vagam, por isso, ao redor dos séculos, deixando de lado paixões e devaneios, todavia cientes de encontrar dentro si, alguns instantes, leis antigas, pois as mantêm na própria carne ao fervor do tempo inteiro. Sendo viventes da relatividade, observam transformações que sustentam admirados o sequenciar das consequências neles mesmos. A escola é isto, aprender na existência o que já trazem consigo desde sempre.

Destarte, personagens de uma ópera significativa, preenchem tais caldeiras desse mistério, e aceitam de bom grado o que se lhes aproxima e satisfaz, na medida dos segmentos posteriores.  

(Ilustração: Botticelli).