quarta-feira, 10 de setembro de 2025

O preço da virtude


Exemplos não faltam. A todo tempo isso do impacto que causa querer transformar a mediocridade a favor de harmonizar os mistérios dessa vida. Quase incrível o descaso sobre aqueles que buscarem meios de evoluir. Disso modelos existem desde sempre na forma do sacrifício dos poucos audaciosos que desejam a paz, o desenvolvimento e a evolução da espécie. Um chão sem conta rasga as vistas através dos tantos largados fora no decorrer da História. Depois retornam em forma de livros, filmes, monumentos, adoração, modelos e lembranças tardias.

Isto, sim, bem significam os motivos históricos, os equívocos das gerações, a ingratidão desses esquecidos no tempo, fora do painel dos bons e sucedidos.

Chega-se a imaginar ser esse o destino de quem queira rever a pauta dos acontecimentos e, portanto, merecer a excomunhão que cabe aos deserdados, o amargor das tramas e sacrifícios vários. Tal seja o preço a custear, quem sabe?, a dor das tradições. O lenitivo dos crédulos. Os calendários, que andam cheios desses nomes mais conhecidos de heróis e heroínas.

Daí, abordar as consequências de quem, lá um momento, desejou escrever diferente o alfabeto das conquistas humanas. E por isso amarguraram o coro dos indiferentes. Mesmo que tal, no entanto, há de se tocar em frente o trilho da solidão desses poucos atores do anonimato. Porém restam as palavras, os trechos das narrativas, o impulso de querer dizer a toda hora que os avanços da raça vieram assim, das duras penas. e trazem consigo o custo dessa indiferença.

Bom, aqui perfaz o esforço de registrar essa característica representativa do heroísmo renegado ao longo das tradições. O panteão cresce no transcorrer do quanto existe, se não aonde buscar tantas estrelas espalhadas pelo céu, aonde fomentar o exemplo dos raros que produziram a continuidade do que ora representar esse todo da humanidade?!

(Ilustração: Rolling Stone Brasil).

segunda-feira, 8 de setembro de 2025

Cativos da imaginação


São infinitas essas tradições a que tantos se submetem nas entranhas de si mesmo. Epopeias por demais desencontradas. Viagens sem conta aos painéis da inexistência. Sobem, descem os penhascos do imaginário e, logo em seguida, buscam refazer os credos dali impostos, descobertas só parciais. Nem sendo assim, terreno pegajoso das ficções, deixam por menos o empenho de continuar. Aceitam, crescem nos próprios cascos e avançam furiosos nos apegos alimentados desse eu turbulento, pretencioso.

Isto que seja o instinto de ficar aqui com tanto empenho. Fome de prosseguir através daquilo que cria, imagina, prepondera mente a dentro. Lances de curta duração, no entanto alimentam o furor da consistência de viver. Padecem a fome dos desejos e nela sobrevivem alguns dias. Constroem castelos de cartas e se escondem nos porões da continuidade de tudo.

Saber-se, pois, doutros universos, contudo presos aos laços de perdições exacerbadas. Vítimas, por isso, da fúria de sustentar as teses do inevitável, dormem sobre os colchões da fama, do poder provisório. Usufruem, urram às portas doutros paraísos que mesmo sejam cobertos de andrajos.

Distantes, de si, seguem aos ecos do destino. Horas, significam visagens, seres aquáticos, animais desaparecidos na neve do impossível. Bem isto, caricaturas doutros heróis desde então inexistentes na alma das gentes. Filas imensas deles acionam esses artefatos perversos à cata das ilusões que lhes viviam. Destruir, que virou ganância de quantas gerações espalhadas desde o passado mais remoto.

Espécie de autocrítica de uma raça esquisita, simboliza os anseios dalgum tempo novo que venha de vir nalgum momento. Por mais queiramos mistificar esses aspectos sombrios do que persiste desde longe, os resultados consistem nessa herança que aí estar. Cicatrizes profundas de aventuras desencontradas. Rastros lamacentos de muitas histórias perdidas. Vontade sem conta de novas harmonias ao coro dos contentes.

Daí, essa interpretação de quantas expectativas e poucos frutos ao sabor da consciência. Isso a subsistir aos percalços e acreditar em dias melhores que sempre hão de vir.

sábado, 6 de setembro de 2025

Em que há de se pensar


As atribuições do quanto existe pesam nisso, no imaginar frio das intenções. Face continuar essa longa aventura dos humanos, um a um, dias e dias, se vai nas entranhas das horas. E buscar razão principal de tocar adiante o conceito vida. Enquanto isto, disfarces à parte, impera na distância o poente na caixa dos destinos. Causa do quanto haverá, eis às mãos o trilho, as ferramentas, engrenagens a mexer nas barbas de molho do sentido de todos.

Então, olhos vendados, seguem-se as ilusões que preenchem a vista. Tantos sejam os desafios, porém persistirá o otimismo de todas as estações. Por mais saber, maiores interrogações. Nisto, o Tempo domina e vem a Fé, certeza de um Absoluto original.

Logo depois, a Consciência, outro protagonista desse roteiro. Sol das almas, ela define atitudes e arrependimentos, até o encontro da Sorte, penhor das existências. Rios e rios haver-se-á de vencer, na medida dos séculos. Daí, o impulso natural das compreensões através deste Infinito.

A fome de desvendar o itinerário da vida qualifica o desejo de, lá num instante, acalmar o sonho e usufruir da realidade. Enquanto isso, aonde focar o pensamento, compreender e acalmar os sentimentos?!... Trazer à tona o motivo de andar pelas estações sucessivas? Querer estar onde os sentidos dominam e o coração sustenta? A quais monumentos acender luzes e entoar cânticos? Conquanto vislumbrar causas, ora tocamos a orquestra dos místicos e revemos as certezas de que a Paz repousa nos braços da sacrossanta Eternidade.

sexta-feira, 5 de setembro de 2025

Os limites da compreensão


Um a um, todos trazem consigo o senso de responder aos reflexos da Natureza. Carregam vidas a fio sob o manto das fantasias individuais. Prevalecem disso face a face com os demais, e folgam em consequência. Todos, em volta de si, ouvem e distinguem a paisagem circundante, cientes de ser conscientes do que isto lhes traz até então. Jogam os pensamentos quais artesões da memória, cercados de anseios e sendo vítimas dos desejos que fervilham lá dentro, e desesperam, fustigam os sonhos na mesma intensidade que impõem os sentimentos aos outros. Aparentes senhores dos limites, vislumbram junto das dezenas dos iguais sem o mínimo conhecimento da humana presença que os traz até aqui, restritos ao círculo fechado da própria imaginação.

Muitos, multidões, caravanas, desfazem no tempo o princípio da vontade, que sejam por demais conhecedores de tudo se veem assim na realidade. Atores de tantos papeis, trocam passos no chão dessas intenções coletivas, crias do mistério jogadas nesse universo, às vezes heróis, doutras figurantes das incertezas vazias. As palavras falam disso, das aventuras de entes assustados que percorreram frases, parágrafos e, logo a seguir, somem nas gretas da inexistência.

Porquanto exclusivos na visão individual, mas pessoas físicas do inesperado, justo no momento das decisões correm, pois, ao sabor das muitas farsas. Habitam os vários seres na busca de interpretar o motivo que os contêm de decidir os enigmas pessoais. Bem esse querer de avaliar estigmas, pedaços de vidas espraiados ao relento. Desde que possível, experimentam o instinto de cortejar a felicidade, contudo saltam obstáculos, criam leis, as obedecem, ou não, nas hostes coletivas, porém tontos de ambição e conflito. Vencer, domar a alma e brilhar entre as estrelas no alto dos céus.

Nesse afã de um dia querer ser consciente, desfazem em fagulhas o princípio do inevitável, braços dados com as normas a que chegarem. Muitos, milhões, enxames de luzes a preencher o quanto existe; nisto sobrevivem e contam de suas aventuras errantes aos quatro ventos.

quarta-feira, 3 de setembro de 2025

Um outro eu que mora aqui

 

Nos finais das tardes ele surgem a contar suas aventuras lá pelos porões sombrios em que passa a maioria das horas. Sabe mais do que o necessário, quero crer, vez utilizar tão pouco daquilo que carrega nessas lembranças. Mergulha numa espécie de domínio até aqui inexistente aos esteja de fora, até a mim mesmo, seu pretenso sucessor, surpreso que o vejo nessas ocasiões de lhe ouvir as confidências de momentos lá de longe, da infância, doutros vínculos, doutras pessoas... Falas, músicas, paisagens... A não dizer doutros territórios mentais difíceis de compreender. No entanto, insiste existir a todo preço. Quer conversar; a custo sair daquela solidão de seu habitat... Dizer, falar, trazer histórias de filmes vistos, de livros lidos, saudades, inexplicáveis segredos guardados, sentimentos remotos deixados pelo caminho. Bem liberto qual seja, impõe condições de linguagem, de seres iguais impossíveis de ser, das vivências ali supostamente perdidas no matagal das outras tardes, manhãs e solidão.

Fala comigo, sim, na maior sem cerimônia, numa espontaneidade de causar espécie, ainda que ciente de habitar esse outro território que nem sei lá aonde fica, porém de certeza que também ocupa o juízo que ora sou, e convive no meio dos trastes e contrastes que carrego vida a fora. Transita numa intimidade de causar espanto, pois conhece de mim uma dosagem superior ao saber das recordações das tantas oportunidades muito além do que eu próprio; nalgumas delas em nitidez surpreendente. Isto porque refaz aquilo abandonado das inconveniências, dos percalços, transes a fio, e despeja em cima da mesa da sala de jantar, e traz de volta num sorriso assim maroto, meio irônico, de intimidade quiçá agressiva seja, cúmplice e reflexiva. Olha nos meus mesmos olhos e desafia a que reviva com graça essas situações de sangue frio, sem ânsias, amarguras, etc.

Bom, que ele persiste dias constantes quem eu não sou a duvidar. Silenciosamente observa da janela do alto da gente minhas reações ao que revela, isso num fastio de memória apreciável, às vezes sórdido, doutras calmo, como quem quer achar alguém que lhe escute, a vencer tamanha solidão do que é feito e se recolher em seguida ao sótão em que mora, lá no alto da escada de um dos cômodos da casa dos meus avós, na fazenda em que nasci. Um personagem arisco, livre pelos campos das chapadas, dos eitos distantes daqueles mistérios fincados dentro de mim, indo aos poucos desaparecendo ao chegar as primeiras tintas escuras da noite, decerto a me aguardar no sono, daí adiante, quando, então, tomará, de todo, o meu viver, ao despertar pelo fervor dos sonhos, seu lugar, de que será o autor absoluto.

terça-feira, 2 de setembro de 2025

A solidão da liberdade


Espaço inexistente a meio da vontade e do Ser, nele milhares vagam. Desfazem os laços do Destino, ou os saboreiam com maior intensidade. Vultos sombrios desfeitos em poeira, dali renascem pelas quadras da imaginação. As lendas dão conta deles nos laços dos seus corações abismados. Eles, perdidos que foram nas noites dos sonhos, guerreiros e distantes forasteiros, que apenas insistem nesta fome de sobreviver a qualquer custo. Bem aqui, na inexistência pura de pedras e astros que os largaram depois de tudo.

Esses tais viajantes das estrelas nem sabem que o sejam. Deslizam no firmamento das horas, quando, só então, deixam de continuar, fechados que sejam os livros de suas histórias lendárias. Nisso, confrontam pelotões imensos de entes fantasmagóricos, através do crivo das verdades que lhes carregam ao pé.

Descrevê-los preencheria páginas e páginas desses relatórios dos dramas a percorrer o vácuo e as letras garrafais da sorte atiradas na alma das tantas criaturas. Sabem-se deles, porém jamais dizem do seu desparecimento às dobras do Infinito. Quer-se sustentar a todo preço as verdades que trouxeram consigo e as esquecem ao desenlace, às fantasias.

Conquanto houvessem de habitar o solo da vastidão de tantas dores, no entanto reviverão, de novo, na Eternidade a sede dos desejos que dominam a multidão inteira deles. Viram, por certo, meros senhores nos altares, repicam carrilhões no silêncio das torres, e, todavia, hão de resistir a toda chama no caudal dos desaparecimentos inevitáveis. Quiseram, destarte, fazer de si a luz da solidão que lhes consumia a todo instante e transformam em nuvens os séculos, as luas.

E regressam enquanto vivos na consciência dos deuses, motivo da realidade indomável do Tempo. Fazem, por isso, a causa dos mitos que andam soltos neste mundo. Acontecem no sentimento das pessoas e depois somem de vez quais se nunca houvessem de ter acontecido. A dúvida não subsistirá, pois, nesse mero espaço de dentro das criaturas, a fazê-las visitantes incertos da imensidão que as aguarda logo ali no sempre de quase nada.

domingo, 31 de agosto de 2025

A idade da chuva

Isso que vem do querer de a tudo selecionar, esquecidos daqueles que nem pensam e vivem, sonham e desaparecem na mesma velocidade do vento e das flores. Pedaços de universos depois desfeitos em cinzas ao sabor dos dias, nas varandas de tantas casas, a meio de lágrimas e risos. Nós, portanto, parceiros da infinitude, retalhos das lembranças, num movimento circular de gerações inteiras. Olhos vesgos nas pequenas vezes, passados que sejam os trinos e as aves, e logo na sequência querem olhar as cenas feitas dos ecos imaginários do Paraíso no outro lado da rua.

Afeitos, por isso, ao ritmo de uns tambores dali distantes, mergulham de alma inteira nessas aventuras criadas nem se sabe onde, ou quando, porém, mesmo assim encantadoras oportunidades de sabor inigualável. Ser-se fiel consigo próprio perante o fluir das gerações. Saber dos ritos, das virtudes aqui guardadas no tramitar das máquinas, que alimentam e pedem certezas, capuchos do algodão das eras. Corações que padecem, no entanto se desfazem na melodia das eternidades. Essas imagens deixadas em monumentos e para sempre entranhadas nas horas sem conta, pois. Reflexos de palavras inteiras, seres vivos nascidos na consciência de todos, depois desfeitas nas dúvidas e nos tempos. Dramas, longas epopeias de romances eternos, quais suaves recordações que inscrevem de nuvens o firmamento, assim persistem os heróis ao sabor dos invernos pelas cores espalhadas no caldeirão das paisagens aí de fora, no país de miragens sem conta.

Talvez que ressurja nalgum momento a trilha sonora de quantas ilusões perdidas pelos porões das memórias. Conquanto imortais, sobrevivem aos valores que os constroem e consomem, nessa indústria do Tempo. Vislumbram mares mais profundos e adormecem nos braços do desejo, senhores de si e pendores das religiões. Nisto, as formas de um catálogo aos nossos pés onde apenas pisamos e lá, certa feita, habitaremos de todo, tais minúsculos confinantes de uma perene Felicidade.