sexta-feira, 24 de outubro de 2025

Artimanhas do inacreditável


Há uma pendência crônica entre estar e permanecer, distender os limites da existência até o Infinito, numa sustentação a bem dizer impossível. Contudo, essa verdade insiste alimentar a certeza, desde longe, de quando poucos ou nenhum nisso imaginava. E percorriam as veredas dos animais pelas sombras de árvores imensas de uma floresta monumental. Pois sim, disso vivem as criaturas, todo tempo. De imaginar o seguinte e usufruir dessa imaginação. Construir palácios no ar e, contentes, viver de tanta oportunidade.

Longe, porém, de reduzir a conceitos a cinzas, eis o senso do quanto existe durante eras infindáveis, e que continuarão eras a fio. Supor, e respirar as consequências disso. Criar longas lendas, no auge da compreensão, e deitar sobre os lençóis de certezas ainda individuais, não definitivas, a perfazer construções da consciência no repasto de crenças e leis.

Bom, o que demonstra essa força humana senão o exercício da história do que contam a si mesmos e aos seus, vidas e vidas?! Dessa distância intransponível entre os seres persiste a compreensão dos ora existentes. Nalgum momento, lá adiante, se sujeitarão a supor outras versões do quanto existe, no entanto, a pisar num solo ainda pegajoso das lamas do que antes contaram uns aos outros.

O peso de tais significados impera no íntimo de todos, neste salão das maravilhas daqui da Terra. Parceiros do auto anonimato, perduram, outrossim, horas sem conta, a descrever territórios profundos de dentro das visões pessoais, enquanto sustentam o desejo sem conta da imortalidade. Isso, um mergulho na alma, o que corresponde às narrativas do encontro de pessoas e pessoas, neste mundo vário. Sabem de si tanto quanto dos demais, vistos durante algum tempo, e depois viram só memória e canções e livros e salmodias.

Na luz desse entendimento apenas o limitado acontece, no claro-escuro das visões em que constroem os castelos da esperança, da fé e de tantos nutrientes das civilizações, isto até, quem sabe?, outras novas existências e ficções serem aqui estabelecidas, no solo de uma realidade pura.

(Ilustração: O herói por excelência, de Arnóbio Rocha).

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