domingo, 26 de outubro de 2025

Além da sobrevivência


Enquanto imagens se sucedem nos rochedos da memória, longe vivem os extremos desejos de continuar, até depois do próprio tempo. Nisto, são noites e dias que encobrem a claridade e marcam o senso dos que insistem conhecer outros estados da matéria, ou da energia, tais fossem. E, face a tanto, padecem estados de consciência por vezes dolorosos, enigmáticos, razão de muitas apreensões. Farejam, quais entes apreensivos, as folhas secas largadas ao furor da velha História. Mergulham nas superfícies até então conhecidas, mas duvidam sobremodo de si, feitos seres doutras dimensões, por certo.

Daí as filosofias dos destinos. Uns admitem existir, num desafio dos dramas que têm de defrontar. Já outros usufruem das danças siderais de quantas aventuras, na crosta do mistério, olhos abertos aos sonhos, porém. Múltiplos conceitos vagam, pois, pelas praias do Infinito e nelas os elementos que revelam essa inexistência fortuita. Amargam ou desfrutam de prazeres sem conta, numa velocidade a bem dizer imaginária.

Depois de experimentar o sabor dos séculos, apenas aceitam iniciar as outras notas daquilo largado pelas vilas e cidades, soberanos das ilusões de nascerem e sumirem. Estejam fieis à solidão ou repastos de multidões irreverentes, descem aos abismos da ausência e dali só contemplam, vez em quando, as telas do desaparecimento, deles, puros senhores da passividade.

Vistas numas poucas narrativas, essas impressões do movimento de objetos e sentimentos distinguem com facilidade o que poderia resumir a jornada desses atores das perdidas desventuras. Querem, de certeza, cruzar a linha entre os dois mundos, matéria e espírito, contudo sob a fragilidade das horas intermitentes. Refazem o percurso, isto passados que foram os gestos revoltos desde longas epopeias. Convergem de tudo, e, na sequência, observam o itinerário ao sabor da distância dos peões desse tabuleiro que se desfaz ao sabor dos séculos.

Talvez em vista disso, a inevitável resposta sempre supera todos roteiros traçados na pele dos cactos fincados à sombra dos vultos, em volta de tamanhas indagações. Superpostos, assim, cientes do poder que possuem, dormem tranquilos às luzes das manhãs que nunca param de vir de origem constante.

(Ilustração: Picasso, Paisagem do Mediterrâneo).

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