sexta-feira, 17 de outubro de 2025

A certeza do tempo


Há lembranças soltas que nos percorrem o juízo, isto sem motivos aparentes. Quais assim nos víssemos à margem de uma estrada onde passam sucessivos comboios de objetos e pessoas, num vai-e-vem constante. São pensamentos e sentimentos, por vezes agrupados ou sozinhos, tangidos dalgum jeito qual seja. Nisto, a convicção de que existe esse fator determinante, a conduzir as histórias, independente doutras opiniões ou determinações.

Dalgum modo fica presente, indefinidamente, esse fator inextinguível a produzir essa estabilidade sobre o que nos vemos e tudo, enfim, e também persiste initerruptamente, o tempo.

Lembro bem doutras horas, lá na infância, quando presenciei saírem de casa rumo a lugar distante três irmãs de meu pai, na fazenda onde vivíamos, em Lavras da Mangabeira, aqui no Ceará. Aquilo tocou em mim com profundidade sem par. Algo ininteligível à época na mente de uma criança. Pude revê-las décadas depois. Mas as marcas deixadas de então ficaram por dentro de minha consciência qual exercício inexplicável de raciocínio. Tanto que ainda hoje, de vez em quando regresso ao instante, sem saber interpretar as ausências de tantos e de tudo que nos some num abrir e fechar de olhos, repondo tão-só lembranças esparsas em substituição.

Daí, são as músicas, os livros, filmes, ocorrências fortuitas, pessoas, num fluir inesperado uns dos outros a fugir na imensidão. O esforço de preservá-los chega às raias do absurdo, com quantas recordações feitas de homenagens, nos museus espalhados pelo mundo. Numa função quase a se dizer absurda, isso consiste no empenho de somar as frações dos instantes e criar novas linguagens que as pudessem consignar numa suposta e aparente eternidade.

Mas, é o tempo a percorrer as visões neste mundo a fora. Espécie de reação talvez provisória, vêm as saudades que tocam os corações, vidas e vidas. Fruto, pois, das ausências que pairam tão fortemente nos que habitam este chão, no mínimo se dispõe da certeza de habitarmos seções insoladas em nós mesmos, no entanto envoltos na magnitude de um fenômeno maior a dar sentido às existências e possibilitar novos dias e nossa evolução hora dessas.

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