Na noite de 28 a 29 de janeiro de 2006, revi num sonho alguns lugares da Bahia, em Salvador, onde vivi de agosto de 1971 a março de 1977 e retornei, por sete meses, em 1978, e três vezes mais, durante períodos de curta permanência, em 1983, 1985 e 1986.
Queira recordar de pessoas e lugares de Salvador, dessas
ocasiões, e nenhuma dificuldade terei, porquanto moram em mim torrentes de
imagens e momentos ali experienciados, quais jóias raras incrustadas na memória.
Integraram-se dentro da minha história quais elementos essenciais, a ponto de
revê-los ao menor gesto, a deslizar feitos fotogramas de película indelével, de
largo teor afetivo agradável e valioso desta existência.
A cidade e sua geografia,
entrelaçadas na bela e privilegiada locação da paisagem natural, fácil, fácil,
dominam a visão dos que observam, o que, de tempo em tempo, volta nos meus
sonhos com nitidez de causar admiração.
Desta vez, andava pelas ruas do
Comércio e da Cidade Alta, em meio a seus prédios elaborados no estilo colonial
português das Grandes Navegações e colonial inglês do século XIX, assim como
quem passeia por sítios antes seus conhecidos. Entrava e saia nesses edifícios,
encontrando personagens do cotidiano, observando o movimento e lembrando que me
achava apenas em visita, realidade atual mesclada nos tons do pretérito,
mecanismo típico da atividade onírica.
O mar é presença constante em
toda Salvador. A refulgência das águas dispostas na Baia de Todos os Santos até
a Ilha de Itaparica, fosso extenso e pano inevitável da cena, em certos
momentos dos dias de sol intenso e das noites de lua cheia, impressiona deveras
a todos, através da mágica da luz que reverbera na própria alma e causa alegria
só conhecida em pousos elevados que dominam o mar, tipo a capital baiana e suas
colinas em forma de espinhaço, por onde se distribui de modo harmônico e
colorido.
Com o sonho, fui lembrando de
coisas precedentes, depositadas no mistério da consciência. A agência do Banco
do Brasil em que trabalhei, na avenida Estados Unidos e os colegas de várias
origens, mais dos Estados do Nordeste. O Convento do Carmo. O Elevador Lacerda.
O Plano Inclinado Gonçalves. O Gabinete Português de Leitura. Pontos esses do
meu percurso diário. Os prédios soturnos das escolas que freqüentei. Os
monumentos principais espalhados na geografia soteropolitana e sua imponência
da austera origem européia colonizadora. As igrejas envoltas no lodo escuro de
décadas e as cerimônias típicas do culto católico, recorrente tantas horas do
dia, no meio dos claustros e do turismo avassalador.
Quão preciosas lembranças
sobrenadam o ser interior ao se transcorrer cenas gratificantes de uma vida as
quais se viveu com sentimento e distante solidão. Resolvera morar na Bahia sem
conhecê-la, apenas pela influência da literatura, da música e do folclore
daquela civilização, berço do Brasil, nascida na miscigenação das influências
sobretudo de africanos, portugueses e espanhóis.
Diante da emoção do sonho,
querendo preservar a voltagem dos bons sentimentos da hora, em gesto
preliminar, pois, vim ao papel e registrei, nos poucos detalhes assinalados,
estas considerações de um tempo rico de vivências. Enquanto isso, tributo de
jeito rápido meu reconhecimento ao o povo baiano face ao modo hospitaleiro com
que me recebeu nesse tempo, citando que daquela raça procederam os primeiros
civilizadores do Cariri, vindos da Casa da Torre de Garcia D’Ávila, no Ciclo do
Couro, fins do século XVII, princípios do século XVIII.
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