Sem deixar vestígios, transcorremos o tempo à procura de sombras. Olhos abertos ao infinito das horas, apenas cumprimos a missão de existir sob a luz do firmamento. Longos cortejos, pois, deslizam pelos roçados da sorte e contemplam assustados mil folhas em volta. Ardentes de desejos, nisto, efetuam o cálculo dos dias e sonham absortos. Bem isso, paisagens ocultas sob o teto das agruras, e procuram divisar o sentido oculto na visão, nós por nós, longos estirões de animais em fuga pelos ares. Quiséssemos e ter-nos-íamos parceiros das distâncias apenas nalgumas pequenas doses de ração que alimentam o sabor de ser a qualquer desses instantes. Mais que isso, forjamos armaduras e destruímos apegos face a face com o esforço de continuar, porém continuar.
Depois de tudo isto, contemplar as distâncias e vadiar nas
noites feitos vultos lançados ao vazio, meros autores de sonhadas
circunstâncias. A meio de palavras e frases, apenas suspiros silenciosos
doutras dimensões até então escondidas, soturnas, feitas de pequenos fragmentos
de almas ansiosas.
Fôssemos, portanto, revelar o sentido que nos arrasta pelas
encostas do destino e tão só viveríamos dos frutos verdes da imaginação e dos
pensamentos. Quantos amores, tantos gestos de impensada justiça... descobriríamos
nesse ritmo alucinante, intermitente, seres luzes em formação, reis em
crescimento. Destarte, no eito de sustos e dores, um parto acontece de dentro das
figuras em movimento nessa crosta do vento. Senhores de toda possibilidade,
assim crescem dos sentimentos desfeitos em saudade nas telas imensas do
horizonte. Enquanto isto, aqui conosco mora o abismo aonde iremos desvendar o
quê e perenes contemplamos, sórdidos, do que ora somos, apreciadores da
distância e dos renascimentos, transportes de consciências adormecidas.
(Ilustração: Leonardo da Vinci).
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