sexta-feira, 18 de outubro de 2024

O carrossel das existências

 

Mais que puro enigma, o Tempo faz e desfaz a todo instante. Fogueira acesa nas abas do Destino, esse ritmo feérico sacode a essência de tudo e deixa de lado as marcas de novas interpretações. As convenções valem pouco, nesse afã de passar inevitável. Apenas isso, seres anônimos que observam e se desfazem ao cair das tardes. Exímios fazedores de histórias, também as esquecem aos finais das quermesses irreverentes do dia. Nós; que fossem outros, no entanto, minúsculos seres dessa lenda, adormecem, lá longe, sobre os próprios exílios que fizerem. Criam e a elas alimentam, nas ilusões enternecidas. De quanto seja, resta o silêncio e as flores das estações, que também fogem de si no esquecimento voraz. Horas a fio, o comboio dos presentes em desaparecimento ora some no quebrar das resistências. A cada todo instante, novas circunferências que foram e voltam em seguida...

Sim, disso nascem as músicas, os sons da Natureza, as cores e o vento dadivoso. Lá em cima, os astros cruzam enquanto existir o eixo perpendicular que os sustenta nos seres; porém persistirá no sentido adormecido das consciências aladas. Vezes seculares e os céus em movimento contorce o vazio das noites. Detalhes do Infinito acendam novos dramas pelas telas do sentimento. Pessoas que vêm, que vão, indistintamente, no pulsar dos corações. Luzes constantes, somos esses autores e protagonistas da velocidade e dos amores fugazes. Meros significados adormecidos, abrimos o caminho da dúvida e mergulhamos no depois, feitos mercadores da consciência.

Querer ou duvidar, resta viver e sonhar, unicamente. Quase nadas nas engrenagens do impossível, existisse a água e vagaríamos ausentes no Cosmos. Tantos, e tão luminosos seres, guardam consigo a chama do mistério; sofrem ou gozam dos segredos na Eternidade logo ali agora, pois. Disso, retalhos de tecidos imaginários preenchem o cenário do desejo e escutamos calados as poucas palavras a ouvir na solidão.

(Ilustração: Vladimir Kush).

 

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