terça-feira, 15 de outubro de 2024

Espírito de rebanho



Há animais solitários. Outros carecem de ter a quem seguir, ou ser seguido, quando muito. Essa fome deslavada de cumprir pungente determinação, que vem de dentro, houveram de chamar de instinto, impulso inato avassalador que determina. No entanto, nos humanos persistem os dois fatores; nalguns, puro e simples, o instinto de continuar em grupo a todo custo. Noutros, a ânsia premente de sair sozinho pelas horas vazias à busca de si mesmos ou das razões ausentes, ainda sem a devida compreensão de quase nada. Seres humanos. Animais solitários, ou componentes das manadas deixadas no furor das circunstâncias, iguais ao inexistente, dalgum modo. Disto nascem os preâmbulos das tantas histórias que deixam no lastro de pegadas fantasiosas nessas terras do sem fim.

Senhores, pois, do firmamento, vultos sombrios dos jogos da memória individual, transcrevem os contos e as lendas feitos senhores do desaparecido, filhos diletos de um paraíso perdido nos sóis. Dia desses, quando menos esperar, revelam criaturas até então ausentes do quanto ficara registrado no teto da imensidão. São pulsações jamais consideradas em outras gerações, contudo escrita necessária aos eventos guardados no íntimo de largas experiências, quem sabe na alma de toda criatura?! Restos de aventuras prodigiosas vividas por nós ou, quiçá, inolvidáveis sobras do prato dos destinos?!

Nisto, o desejo de contar que todos têm, gregos e troianos, do traçado imaginário e das necessidades humanas que enchem de fervor o pulsar dos corações. Bem que seja assim desde o começo. Nem da vontade o instinto de narrar essa epopeia divina contém o que nela habitam esses tais passageiros das visões e escritos. Em qualquer das estações, a torto e a direito, lá conduzem seus impulsos, no puro contexto de consolidar essa função original de estar aqui mesmo longe das realidades e ficções perdidas nesse mundo daí afora.

Li, outro dia, José Saramago a dizer: O heroico no ser humano é não pertencer a um rebanho. Nisso, fiquei a matutar naqueles que se perderam na solidão do Infinito à cata dos heróis da própria história. E sonhei com as noites iluminadas de estrelas pelos céus inexplicáveis

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