De uma coisa ele nunca esqueceria, o perfume que ela usara desde o primeiro encontro na pracinha ao lado da Matriz, centro glamouroso da cidade do interior e suas gentes enfatiotadas nos fins de tarde dos domingos, após a missa das seis.
Daí, se amaram a valer, união de
marcar época em qualquer reencarnação. Ele, de mais idade; ela, jovem doce, de
olhos misteriosos, olheiras acentuadas pelo tanto que gostava de dormir.
Apegados feitos dois ilhoses aconchegados nos íntimos de cada pessoa, andaram
fronteiros das maravilhas dos sonhos, amigos afeitos um ao outro, vocação de
felicidade intensa, gostosa.
Aquele cheiro de gardênia do seu
perfume enchia os pensamentos dele tão logo pensasse nos próximos encontros. Funcionava
assim qual senha de certeza antecipada de se verem de novo em breve, assuntos
de corações amantes, insólitos. Houvesse desejo de ser rever, lá crescia o
perfume e nada demorava no tempo a se acharem nos traçados irregulares das ruas
da cidadezinha cheia de locais típicos de amar a quem nutre a sede dos beijos e
abraços, em tardes mornas, manhãs luminosas, noites agradáveis.
Bom, nesse pisar a vida correu,
em meio aos intensos fervores do casal em chama. Outras preocupações sobravam
fácil no terreiro da afeição recíproca. Força superior das vontades juntas, a
somar olhares luminosos em tudo por tudo, aquele amálgama revelava sinfonia
estável. Eles se casaram por declive natural de conseqüência, em meio a festa
simples de fim-de-semana, indo morar num dos bairros da localidade, para
receber os amigos nas datas maiores e viajar nos trilhos macios do firmamento
em brasa dos crepúsculos e alvoreceres.
Lá um dia, desses que ninguém
ignora, porém jamais aspira reviver, mal repentino achou de romper aqueles
laços supremos do amor dos felizes, sopapo de entristecer o clima, escurecer de
nuvens cinzas os céus vários dias seguidos, marcando a alma dos viventes
assustados pelos laços da fatalidade. Ela morreu sem que eles recebessem aviso
prévio, num lamento só no lugar.
O impacto disso qualquer ser
supõe e se arripuna... Rejeita... Foge...
Ele, largado no vento dos escuros
e claros, abandonado aos dentes do inesperado, viu escorrer pelos dedos a
fartura da alegria imensa que desfrutava, sujeito das ondas misteriosas da
existência. Chorou de não contar mais água nos reservos da carne. Estudou
livros sagrados, jeitos de rezar do melhor jeito, pedir, implorar, praticar
cilício, renunciação, meditação. Chamou todos os santos. Negociou promessas.
Desistiu de usar o pensamento, e silenciou por dentro, a olhar o vazio da
não-mente dos budistas, ciente de chegar qualquer dia algum lugar interno de
si.
Contudo certeza certa mesmo lhe
veio quando, sem mais nem menos, noite dos mormaços de setembro, ele, acordado
nas malhas da saudade rigorosa que administrava, sentiu inevitável o fragor
odoroso de gardênia, misturado com o hálito bom dos lábios da amada logo ali do
lado, no lar ardente dos passados sonhos de tantas e inolvidáveis noites.
Assim, daquela às noites
seguintes, às horas de sempre, o perfume de gardênia encheu de presença boa a
casa aonde construíram a base da felicidade, sinal da imortalidade da
companheira guardado na essência do ser, dando a condição de vidas persistente,
vitória sobre às sombras do desaparecimento. Nisso, eles dois se abraçaram
noutro nível de existência, na composição suave de laços imaginários, o
sobreviver no horizonte eterno. Chegavam pelo perfume à verdade do matrimônio
espiritual das almas.
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