Nas circunstâncias dessas daqui do Chão, lugar onde moram as nossas presenças, vive-se entre árvores de pensamentos e palavras, num processo ininterrupto de registrar os pedaços de tempo que escorrem todo momento. Elas, as florestas de acontecimentos, também nos envolvem; julgamos isso constantemente na medida em que trocamos a solidão pelas suas versões individuais no movimento dos dias. Todos, sem qualquer exceção, singram os ares e produzem neles os seus habitantes, crostas de si mesmos. Quanta imprevisão, pois, a todo tempo. Ainda fora de uma visão definitiva, preenchem esse espaço aberto, artesões das histórias imaginárias. Avistam até onde a visão pode chegar e se prendem aos instintos de sobreviver. Assim revelam as dores e os amores deste mundo na carcaça que jogam no lixo.
Quer-se reunir as tais versões individuais através dos
documentos escritos, das paisagens fotografadas, dos quadros, filmes, músicas, no
entanto estes sendo meros escolhos do que resta bem longe da realidade, daí
nascendo outras e novas realidades, fabricadas no vazio das criaturas. A ânsia
de não perder o rio dos dias força as multidões a plantar flores nos jardins
da humanidade. Nisso, marcas profundas invadem o mistério das histórias e somam
ao que antes foram presenças, mas que sumiram no limbo do passado. Espécie de
vultos sombrios, lá nas ruas desce o séquito desses que foram e aqui permanecem
na memória dos entes vivos.
Ora seres esquisitos, contudo, tocam adiante o fardo das
horas em forma de imagens que persistem no solo dessas pessoas iguais que somos.
Qual figuração de si mesmos, os humanos tecem o mar das existências com essa
mesma linha do que sejam eles e que depois restarão tão só as mãos das outras
criaturas que nem existem mais. Daí as melodias desse tempo inesquecível dos
animais que pensam e continuam a produzir o Eterno das próprias entranhas,
fragmentos extintos de antigas tradições que já desapareceram.
Quando vemos ao nosso lado o reflexo de cada um de nós nas
individualidades que nos acompanham, vem isto de saber que nesses outros ali de
junto também reviveremos para sempre. E dormiremos em paz no coração das
ausências imortais.
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