sexta-feira, 20 de maio de 2022

A solidão dos que amam

 


Às vezes me pergunto a respeito de como vivem os que se dedicam de corpo e alma às ideias religiosas com ânimo de pô-las em prática. Viver de renúncia, bondade, fraternidade, serviço, esperança, fé... Isto em um mundo onde de comum mais prevalecem os interesses individuais, projetos pessoais, intenções de lucro e competitividade... Mesmo assim existem esses exóticos que buscam desenvolver outra compreensão que não seja apenas o materialismo vigente e resolvem ser em vez de apenas ter, e saem vagando, nesse meio tempo, até chegar aos páramos de uma verdadeira espiritualidade.

Andam que andam, persistem nos propósitos que adquirem nas visões, nos estudos da visão interna, pessoal, pela descoberta dos mistérios da consciência. Atravessam contradições e desafios; sustentam as barras do cotidiano quase igual desta civilização; e estudam a história que o tempo registrou, de tanta repetição de conflitos, guerras e conquistas, destruição egoísta de povos e nações. Veem o exercício das funções da humanidade que precisa desenvolver, no entanto até parece que pouco ou nada aprende no exercício justo deste chão de quantas lutas.

Daí nascem os místicos, poetas, visionários, profetas, mártires, a contar dos segredos que aprendem de dentro de si, numa vontade férrea de conquistar meios da tão sonhada felicidade. Há sempre novos e novos missionários dos tempos e das promessas. Seres iguais a nós que desgarram do grupo social e vão arrastando pelos campos um viver de explicar modos outros que permitam desvendar o enigma profundo do desaparecimento de todos no abismo pelo sumidouro da morte. Empregam os trunfos da certeza aos meios de revelar trilhos da sonhada transição a planos superiores, ainda que também guardados a sete capas na constituição das gentes.

Isto faz com que, nalgumas ocasiões, os vejamos quais bichos esquisitos, seres surreais, pessoas alienadas, dementadas, sequeladas, cartas fora do baralho, porém de todos a quem podemos dar um crédito de confiança e esperar sinais de boas novas, de que falam os livros sagrados.

(Ilustração: Santo Afonso de Ligório).

2 comentários:

  1. "...Daí nascem os místicos, poetas, visionários, profetas, mártires, a contar dos segredos que aprendem de dentro de si, numa vontade férrea de conquistar meios da tão sonhada felicidade.". Perfeito, real. Parabéns! 🌹

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  2. A solidão dos dos que amam e abraçam uma causa humanitária é também uma vida de paz, serenidade...🌻

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