Tantas vezes são estas cenas que se repetem na vastidão das memórias fieis. Andar pelas ruas e rever pessoas e lugares do pretérito que nunca morreu. As mesmas cenas assim perduram claras no teto infinito da subjetividade. As histórias de antigamente, nos pagos soltos da saudade. Nisto, hoje achei de caminhar um pouco, em face do carro na oficina, e pausei alguns momentos desses de idos tempos, pelas calçadas onde pisava nos cotidianos dalgumas décadas. Até os prédios velhos ganharam alma nova. Outros desapareceram envoltos nos vestígios de construções renovadas e lojas de artesanato dos dias que desgrudam das ausências e sobrevivem aos desejos insaciáveis do abandono.
Ali as pessoas vivem nos pedaços de lembranças semelhantes
ao que foram pelos desvãos das consciências adormecidas. O prédio onde ficava
minha primeira escola, por exemplo, agrega uma igreja evangélica em formato diferente.
As casas revestidas de taipa de antanho, três quase iguais, num repente mudaram
aos moldes das argamassas cinzentas, brilhosas. O mais incrível, a força
resistente de grudar por dentro feito pedras irreversíveis, tijolos de metais
incandescentes, não acaba nunca nos quereres aqui jogados fora.
E sai a caminhar no calor escaldante de um sol do meio-dia,
a meio de silêncios e solidão, nos recantos de mim que restou enternecido às
folhas dos pergaminhos das horas outras que regressam ao presente que fossem as
velhas ruas deste dia, tal existência das criaturas que permanecem gravadas nas
lâminas eternas de cada instante, entre aqui e jamais, formas daqueles engenhos
de emoção que fervem as rapaduras da memória e as deixam abandonadas no açúcar das
ondas deste mar de eternidades.
Via com nitidez pessoas ali naqueles muros onde as deixara
largadas no sonho desse filme insistente. Legiões de afetos, fisionomias, sorrisos;
um coração ainda pulsando às aproximações, nos caminhos, nas páginas desse
conteúdo que agora sou, de velas ao vento na sequência natural de tudo. Que nem
de procurar, me resumo longe nos céus nebulosos dos outros dias, este ser único
de quem preciso a fim de ouvir os murmúrios, e viver sempre nesta sede perpétua
da continuação das espécies.
O retrovisor do tempo nos leva de volta aos lugares por onde passamos, ou moramos é assim mesmo. Pessoas, fatos, pequenas lembranças, o perfume de uma acácia da nossa rua, pessoas, prédios, tudo faz parte deste grande quadro chamado vida, que muitas vezes éramos felizes e não sabíamos. Parabéns pelo seu texto! 🌹
ResponderExcluirPareceu- me que a antiga e ,ao mesmo tempo atual dicotomia ,entre o ser e o não ser, continua a fazer parte do viver do homem como um castigo ou um presente dos céus!! Cabe a cada um escolher o que merece !
ResponderExcluirSim, Ana, assim será até a consumação dos tempos neste lugar de desencanto. Mas isso é divino, a nossa escola de consciência.
Excluir