Do jeito de ver a vida tal seja o jeito de escrever. Se com
otimismo, alegria, as palavras acompanham tais sentimentos e os transmitem na
vontade dos que escrevem. Sem deixar que o estado de espírito circunscreva a
escrita é difícil criar um texto que isso não transpire, no ânimo de quem a
utiliza. De tal modo a força de escrever tem esse condão de influenciar o
leitor e permitir que ache no que lê o alimento que lhe acrescente naquilo que pretenda.
São quantos, são tamanhos os resultados da escrita no
decorrer da civilização, que daí nasceram as religiões, filosofias, doutrinas,
raízes dos caminhos de quem conduz os grupos. Filões de instrumentos, os textos
perpassam turnos da História de modo constante, inclusive nas versões
posteriores dos acontecimentos, resultados de quem a conta, a dizer que a
história é dos vitoriosos, dos que permanecem no poder após embates de povos e
nações.
Há também as angústias dos desesperados que recusam ficar em
silêncio. Contam de suas dores, frustrações, seus percalços, desde que possam
chegar adiante e relatar dramas e perdições por que houvessem de transcorrer,
deixando, assim, a canção dos sofrimentos na forma de poemas, romances,
narrativas atiradas aos mares ignotos em busca doutros incertos destinos.
Escrever... Gestos aflitos dos que recusam o vazio da
ausência. Vem disso o desejo de preservar a consciência dos tempos na viagem
pelas mentes e épocas. Em decorrência da escrita, provêm os outros meios de ir
mais longe às pessoas através dos folguedos populares, cinema, teatro, imagens
visuais, fotografia, sempre a descrever momentos e plasmar os dias que somem céleres
pelo abismo do passado.
A narrativa, por isso, sustenta a memória das gentes e
reflete os sentimentos que vivem soltos na imaginação. Este o sonho da Salvação
que há de, eternamente, revelar à aventura humana o encontro das palavras e dos
pensamentos nas praias do definitivo.
(Ilustração: William Blake).
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