A paixão foi tamanha que Lima resolveu consertar os planos de conhecer o resto do mundo e permaneceu só naquele torrão diferente. Formou casal com a namorada e deu de arranjar trabalho para se manter a qualquer modo.
Mas era tudo diferente. Dias cinzentos, gelados, quase o ano todo; língua esquisita, bem longe que dos promodes de nosso português; raça nórdica de costumes pouco ou em nada parecidos com daqui.
Ainda que pesassem todos aqueles fatores desfavoráveis, o genial protagonista seguiu adiante no sonho de serem felizes eles dois, fora de casa, dos amigos, da terra tropical em que nascera, pois o amor é lindo.
O tempo, no entanto, a quem não sobra acomodação, ou indiferença, principiou cobrar desgosto do estrangeiro distante. Já andava cabreiro, meio sem interesse de aprender a língua difícil por demais, ocupações o dia todo, pessoas caladas, quietas, apressadas. Cama e mesa nem sempre é tudo. E certa madrugada, que preenchia a ouvir o chiado das notícias brasileiras pelas ondas curtas de rádio a válvula, qual surpresa lhe aguardava através do Repórter Esso, na voz inconfundível de Heron Domingues:
- Neste dia, o Brasil está de luto: Acabamos de tomar conhecimento que o presidente Getúlio Vargas, nas dependências internas do Palácio do Catete, no Rio de Janeiro, atentou contra a própria vida.
Sozinho dentro da noite glacial do clima norueguês, Lima Duarte sentiu de perto a profundidade do que seja a verdadeira solidão. Gelou dos pés à cabeça. Nem atinou de acordar a querida companheira, que ressonava ao lado. Correu feito doido, desesperadamente; foi jogando o que achou pela frente, e pudesse, caber na mala que encontrou. Bem cedo da manhã se despedia da mulher e dos raros amigos que fizera, e partiu em busca do primeiro navio de volta à pátria tão querida, agora órfão do endeusado governante desaparecido. Era 24 de agosto de 1954.
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