terça-feira, 2 de maio de 2017

O enigma do rei

Numa das crises de humor, o rei convocaria seus súditos em assembleia e proporia que, daí a três dias, iria fornecer enigma a ser respondido com uma só palavra, e quem não acertasse correria risco de perder a cabeça. Nuvem de apreensão tomaria conta do grupo, em seguida dispersado e convocado para daí ao final do prazo.


Naqueles termos, ninguém saía tranquilo da conferência. Portanto Camões não ficava à margem, e viu escurecer a paz tradicional que cultivava, regressando ao lar em pânico. Sua companheira observou que algo de grave se dera na conferência de Sua Majestade, cuidando de saber o motivo da infelicidade que tomava o rosto do marido. 

- Que palavra seria aquela do Senhor Rei, mulher? – indagou arrependido das proximidades com o soberano.

Ela, no entanto, a demonstrar pouco caso, pediu que esperasse até a manhã seguinte, e diria o termo que solucionava o enigma. Apenas aguardasse pouco mais, deixando aos seus cuidados resolver.

No outro dia, bem cedo o marido acordaria a esposa, passada que fora a noite de medo que viveu. Olha a mulher na dúvida se receberia a resposta que lhe prometera.

- Já sei a solução do enigma – ela afirmou.

- Pois diga logo, se não essa dor continua o dia todo. Diga, diga – apreensivo falou.

- A palavra de Sua Majestade é passará – foi dizendo. – Isto, passará.

O marido parou de olhos fixos no ar, assim meio na dúvida, porém sem outro jeito além de aceitar de imediato o termo que a esposa oferecia de salvação. 

Tranquilizou-se pelos dois dias que ainda restavam, e na hora certa comparecia ao palácio, alma leve e confiante. Trazia consigo a resposta desejada pelo rei.

- Sim, senhores, vamos ao que interessa – disse o monarca ameaçador. – Qual a palavra que serve de remédio às dores deste mundo em qualquer situação?

Nisso, de ânimo aceso, Camões gritou de uma vez por todas: - Passará!

O rei levantou a cabeça e sorriu, confirmando o acerto da resposta. E todos se abraçaram felizes.

- Passará – repetiu o rei calmamente.  

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