Esse hábito de transferir aos demais o motivo do que se lhes aconteça bem caracteriza o atraso na compreensão espiritual. Ignorar os próprios atos. Fazer-se merecedor do desejo sem desfrutar do que houver feito antes. E nisso atirar na civilização, numa injustiça do acaso, noutras forças, nos ventos, nas épocas, no Mal, as causas da infelicidade pessoal, ou coletiva.
Ninguém olha a si e estabelece uma perfeita relação de causa e feito, da dependência do justo pelo justo da Lei.
Quando Nietzsche questiona a existência De um Poder Infinito além dos seres humanos, com base na acomodação aos valores de grupos dominantes dos deuses de castas, de classes sociais e políticas. E proclamou o Super-Homem, um deus de Si, para além do Bem e do Mal, acima dessa mediocridade do fracasso justificado e cínico.
Mais do que um filosofia, quer oferecer uma reclamação aos desistentes do Poder que transportam na alma, fonte dos mistérios da Criação e da Consciência, longe de isto exercitar numa prática efetiva.
A propósito, li recentemente, no livro Histórias do Rabi, de Martin Burber, narrativa do que seria esse grau da dependência humana às próprias fraquezas, e sua transferência aos outros mortais.
É uma história do Rabi Pinkras. Ao chegar na casa de estudos em que transmitia seus ensinamentos, acha os discípulos em discussão acalorada. Ao avistarem o Mestre, silenciaram, sabendo, no entanto, do interesse dele quanto ao que há pouco debatiam.
- Bom, Mestre, nós avaliávamos o que fazer diante das perseguições do mal a que todos estamos sujeitos – disse um dos presentes.
O rabino de pronto considerou: - Não vos preocupeis. Tão alto ainda não chegastes, para que ele vos persiga. Por enquanto sois vós que o perseguis.
(Ilustração: Filme O gato do rabino, de Antoine Delesvaux e Joann Star).
Rica história, nos leva a reflexão, avaliação de nossas escolhas e atitudes. Um abraço!
ResponderExcluir