quinta-feira, 13 de abril de 2017

Afinação

Crato dos anos 70, período em que vivi ausente do Cariri boa parte do tempo, morando em Salvador. Essa história, no entanto, chegou a mim por meio de Wellington (Etin) Bringel e Paulo Luiz (Lupeu), em uma conversa recente.

Recordaram eles de Temóteo, evidente personagem da época, músico saxofonista dos Ases do Ritmo, grupo que dividiu as honras festivas das matinais e tertúlias da cidade naquela fase gloriosa. Bom instrumentista, ele também detinha fama de ser excêntrico, dado a comportamentos inusitados, dentro outros de reunir animais, principalmente, galináceas para, em clima de lhe acompanharem os ensaios, ficar horas e horas na escuta obediente do seu desempenho ao sax enquanto realizava os ensaios. 

Figura das mais folclóricas, andava pelas ruas a transportar essas penosas pendentes dos ombros, quase a fazer parte da sua indumentária típica, causando espécie aos circunstantes, que ainda revivem as peripécias do artista e seu jeito engraçado.

Num desses acontecidos mais curiosos, lá pras bandas de Fortaleza, ao se descolocar a pé numa das avenidas centrais da Capital, após insistentes buzinadas, automóvel em flagrante velocidade terminou colhendo Temóteo, que caiu desacordado. O motorista se evadiu sem prestar socorro ao artista, deixado-o estirado ao solo. Diante da ocorrência, rápido populares cuidaram de chamar uma ambulância que transportaria a vítima à assistência municipal.

E ao ser atendido na emergência hospitalar, querendo detalhes do acidente, o funcionário quis saber maiores informações, indagando de Temóteo se observara a placa policial do carro que o atingira. Então, depois de fazer visível esforço de lembrar algo do que perguntavam, tudo que o músico conseguiu, com absoluta convicção, foi dizer:

- A placa... a placa, deu tempo não; gravei não. O que guardei na memória foi o só o tom da buzina, que ‘tava afinada em si bemol. 

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