terça-feira, 22 de novembro de 2016
Recife não tem estrelas - Janaína Lacerda
Recife. Nem lembro ao certo o dia, lembro que tu tava naquela bad chata e que a gente tava sem saco pra curtir uma noite em João Pessoa, dançar-rir-paquerar, e tu disse vamo pra Recife e eu bora e a gente foi. Acho que foi no dia que a gente chegou, depois de passar em Olinda pegar bus e ir pra casa do teu amigo. Lembro do apartamento semivazio e daquela varanda iluminada que fui olhar enquanto tu tava se arrumando pra gente ir ao Janela Internacional de Cinema do Recife (que a gente descobriu que tava acontecendo quando a gente chegou lá). Foi na varanda de azulejos verdes que me senti voyeur da janela indiscreta de Hitchcock, a única luz acesa no prédio à frente, era a de um cara que arrumava a árvore de Natal iluminando a casa de luzes vermelhas dos ornamentos natalinos; ele tava acompanhado de dois cachorros grandes que o observavam atentamente. As luzes da árvore se acenderam e ele aplaudiu excitado, eu só ouvia a cidade carro gente ônibus bicho e ele abraçou o cachorro que estava mais próximo, ficaram observando a árvore, felizes, e eu gritei OWN, pra tu ver também, e ficamos avarandadas naquela noite olhando o Natal acendendo e eu pensando na solidão das pessoas nessas capitais, nós nesse mundão e o Natal chegando, e outubro que não acaba, a janela deixando aquele homem despido de dentro pra fora e pra mim, queria sentir só amor, amor, amor, e transbordei em pensamentos: Recife não tem estrelas.
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Que beleza de texto! Parabéns Janaina, gostei demais do seu estilo de escrever. O Natal é assim mesmo, é um momento que mais carecemos de amor. Gostei também da janela indiscreta, está também é uma realidade em nossos dias. As pessoas estão cada vez mais sós. Parabéns, gostaria de ler mais textos seus, gostei muito. Está no DNA a facilicidade de se expressar.
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