Ao sustentar o peso do corpo no ar, sem possibilidade de voltar à superfície, o homem avaliou sua situação ali pendurado na fragilidade do pequeno tronco. Então, observou acima, no solo onde estava fixado o arbusto, dois ratinhos, um preto e um branco, em constante atividade a roer as raízes que mantinha a planta presa à parede da imensa garganta.
O desespero quis lhe tomar a preocupação, contudo notara, próximos de suas mãos, morangos maduros, chamativos, que passaria a saborear com sofreguidão.
Dizem os intérpretes dessa história oriental que guerreiros em fuga são todos os humanos, que escapam embalados do desaparecimento da morte simbolizada no precipício à frente, no tempo. Simulamos, qual podemos, apegos construídos ao longo dos momentos que fluem.
Seguros o quanto imaginável aos bens e sentidos que nos mantêm vivos, entretanto registramos o transcorrer incessante das noites e dos dias, os dois ratinhos a roer ligações junto às quais nos mantemos pegados a este chão transitório.
No fim de alimentar sonhos de permanência enquanto possível, saboreamos pequenos mimos dessa existência através dos frutos doces ao nível das ilusões às nossas mãos.
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