sábado, 23 de novembro de 2013

Parábola zen

Certa vez, um guerreiro fugia perseguido por dezenas de inimigos quando defronta largo e fundo precipício no caminho. Aflito, observa logo abaixo da encosta íngreme um pé de morango carregado de frutos. Com dificuldade, rápido, pisando nas pedras, desceu e se agarrou às galhas da vegetação o tanto suficiente a não mais ser visto pelos perseguidores ferozes, que imaginaram houvesse caído no abismo, e abandonaram a caçada.

Ao sustentar o peso do corpo no ar, sem possibilidade de voltar à superfície, o homem avaliou sua situação ali pendurado na fragilidade do pequeno tronco. Então, observou acima, no solo onde estava fixado o arbusto, dois ratinhos, um preto e um branco, em constante atividade a roer as raízes que mantinha a planta presa à parede da imensa garganta.

O desespero quis lhe tomar a preocupação, contudo notara, próximos de suas mãos, morangos maduros, chamativos, que passaria a saborear com sofreguidão. 

Dizem os intérpretes dessa história oriental que guerreiros em fuga são todos os humanos, que escapam embalados do desaparecimento da morte simbolizada no precipício à frente, no tempo. Simulamos, qual podemos, apegos construídos ao longo dos momentos que fluem. 

Seguros o quanto imaginável aos bens e sentidos que nos mantêm vivos, entretanto registramos o transcorrer incessante das noites e dos dias, os dois ratinhos a roer ligações junto às quais nos mantemos pegados a este chão transitório.

No fim de alimentar sonhos de permanência enquanto possível, saboreamos pequenos mimos dessa existência através dos frutos doces ao nível das ilusões às nossas mãos. 

Nenhum comentário:

Postar um comentário