sábado, 9 de novembro de 2013

O deserto e o coração

Deserto das mentalidades vazias dos catadores de miragem espalhados ao vento, na velha sequidão onde, um dia, houve mar de água doce. A voz do que clama no deserto, João Batista, querendo endireitai as veredas do Senhor... Isso lá num tempo de vastidões ressequidas e hoje carros atoleimados que vagam pelas avenidas rudes das selvas de pedra. Tecnologias em alta, criaturas em baixa, animais envilecidos num desaparecimento vertiginoso diante da profundeza de uma fome atroz de amor. Zumbis apavorados em grupos de vaidades sem nexo, parados nos sinais da solidão. Astronautas do egoísmo, arrependidos na saudade, viagem no sem jeito da fama e das posses inúteis. 

Enquanto isso, o pensamento ainda impera solto nas consciências perdidas, espectros bloqueando a chegada dos sentimentos bons que ainda salvarão as máquinas dominadoras dos continentes e das oportunidades de libertação. Arrependei-vos da cegueira e vens ao batismo de João, vós escondidos detrás das muralhas falsas do poder do chão, quais ratos medrosos em noites de fúria, pigmeus que devoram a própria carne em busca de sobreviver algumas copas do mundo mais, durante a farra da ilusão passageira, miragens, miragens, cenouras à frente de burros trôpegos, no trilheiro de açúcar e sal, desnorteados vendedores de fumaça e poeira. 

Lembranças persistem, no entanto, nos avisos da voz do que, belo dia, clamou no deserto, e dele cortaram a cabeça: ... Porque eu vos digo que, mesmo destas pedras, Deus pode suscitar filhos a Abraão. Filhos do coração, nascidos acesos, vivos na alma dos que têm fé na certeza, na Verdade, frutos do solo fértil de corações fortalecidos.

O deserto de nós donde viverá eterna vida, haja que plantar e regar a semente do Bem pela prática do que é bom de essência. Então, firmar os pés na revelação de Si, justa medida dos que se orientam nas estrelas e no Sol, exemplos da Luz no coração.

(Foto: Jackson Bola Bantim).

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