sexta-feira, 4 de janeiro de 2013

Uma data de menos


Neste dia e ainda pisasse esse chão, meu pai hoje interaria 91 anos, o que deixou de acontecer, pois fez a passagem para outra vida há dois meses, largando cá fora o movimento da rotina nacional repartido entre os que visíveis permaneceram no batente. Espécie de ausência esvaziada preenche o intervalo que ele deixou onde objetos dizem da existência que levara, lugares onde andara, trabalhara, festejara, observara continuadamente em volta dos pontos que ilustrou, de pai, irmão, filho; contador voraz das histórias que escutou, leu, presenciou. Marcado de poderosa experiência, transmitiu e guardou consigo uma parte delas, porém, as nuvens de pensamentos lhe variam as vastidões da alma, que, por cento, calou para contar só depois (e pergunto, quando? E a quem?).

As pessoas representam esse projeto fabuloso de eternidades que carregam pelas estradas através do momento. Contradições ambulantes das flutuações necessárias são fiéis inarredáveis dos propósitos mais verdadeiros de cumprir metas vigorosas, austeras, efetivas. Noutras, contudo, mordazes aventureiros das dúvidas teimosas, levam na bagagem o de tão pouco que pretenderam construir, entregues a mãos débeis que ficaram aqui abismadas na distância, na saudade, aprendizes da solidão silenciosa dos céus impassíveis.

Quer-se duvidar dos tais elementos transcendentais, que longe dizem das provas guardadas nas tradições. Buscar avaliações precipitadas na indiferença, saltar de lado e oferecer a esperança de resposta. Chegam calados os acordes de vultos vaporosos, pois, às vezes, penso que já escrevi o suficiente. Quando, nessa hora, pergunta estridente desce as escadas carregando papéis e papéis abraçados no peito, quais mapas de lugares inexistentes, e larga na minha cara o vozeirão rouco de quem jamais quis saber do limite das variáveis estradas vazias, e a pergunta estridente desembucha: - Suficiente pra quê? Pra quê, hein?!

Escrever nunca será o suficiente de nada, pra nada, justo agora que o teto das ideias vem abaixo e reclama nexo às palavras abandonadas no lixo das conjunturas, diante da imprudência de sentido das massas falidas. Ninguém explica o inexplicável.

Essas fatias de pensamentos ocupam o espaço dos desertos, restos de dúvidas e princípios de todas as certezas valentes da manhã em que choveu as primeiras chuvas do ano que principiou anteontem. Falar ou calar, nenhuma diferença faz, se é que há diferenças a fazer.

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