Neste dia e ainda pisasse
esse chão, meu pai hoje interaria 91 anos, o que deixou de acontecer, pois fez
a passagem para outra vida há dois meses, largando cá fora o movimento da
rotina nacional repartido entre os que visíveis permaneceram no batente.
Espécie de ausência esvaziada preenche o intervalo que ele deixou onde objetos
dizem da existência que levara, lugares onde andara, trabalhara, festejara,
observara continuadamente em volta dos pontos que ilustrou, de pai, irmão, filho;
contador voraz das histórias que escutou, leu, presenciou. Marcado de poderosa
experiência, transmitiu e guardou consigo uma parte delas, porém, as nuvens de
pensamentos lhe variam as vastidões da alma, que, por cento, calou para contar
só depois (e pergunto, quando? E a quem?).
As pessoas representam
esse projeto fabuloso de eternidades que carregam pelas estradas através do
momento. Contradições ambulantes das flutuações necessárias são fiéis
inarredáveis dos propósitos mais verdadeiros de cumprir metas vigorosas,
austeras, efetivas. Noutras, contudo, mordazes aventureiros das dúvidas teimosas,
levam na bagagem o de tão pouco que pretenderam construir, entregues a mãos débeis
que ficaram aqui abismadas na distância, na saudade, aprendizes da solidão silenciosa
dos céus impassíveis.
Quer-se duvidar dos tais
elementos transcendentais, que longe dizem das provas guardadas nas tradições.
Buscar avaliações precipitadas na indiferença, saltar de lado e oferecer a esperança
de resposta. Chegam calados os acordes de vultos vaporosos, pois, às vezes,
penso que já escrevi o suficiente. Quando, nessa hora, pergunta estridente
desce as escadas carregando papéis e papéis abraçados no peito, quais mapas de
lugares inexistentes, e larga na minha cara o vozeirão rouco de quem jamais
quis saber do limite das variáveis estradas vazias, e a pergunta estridente
desembucha: - Suficiente pra quê? Pra quê, hein?!
Escrever nunca será o
suficiente de nada, pra nada, justo agora que o teto das ideias vem abaixo e reclama
nexo às palavras abandonadas no lixo das conjunturas, diante da imprudência de
sentido das massas falidas. Ninguém explica o inexplicável.
Essas fatias de
pensamentos ocupam o espaço dos desertos, restos de dúvidas e princípios de
todas as certezas valentes da manhã em que choveu as primeiras chuvas do ano
que principiou anteontem. Falar ou calar, nenhuma diferença faz, se é que há
diferenças a fazer.
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