Quando criança, na
fazenda do meu avô, algo me chamava a atenção, o jeito com que denominavam as
reses do curral. Mimosa, Listrada, Xanduzinha, Caititu, Sabonete, Rosada,
Padrão, Supimpa, Corró, Mandão, Traquina, Sobejo, Desmantelo, Mãe de Leite,
apelidos que grudavam nos bichos, passavam de mão em mão e que logo se
espalhavam até nas vizinhanças.
Landuá, Desconfiado,
Fujão, Guaxinim, Rosita, Qualhada, Sabiá, Estrela, Chuviscada, Carne e Osso, às
vezes tendo como base alguma característica física do animal, comportamento,
malhas no couro, tudo numa lírica produzida no decorrer do tempo, na história
do rebanho e das pessoas em volta. Outras vezes, fruto dos acontecimentos
laterais do sítio, ou de aspectos só ocasionais, qual na política quando disputaram
o governo do Estado os líderes Virgílio Távora e Parsifal Barroso, razão suficiente
a nomearem dois touros, que competiam no meio das manadas, de Virgílio e
Parsifal, os quais, na minha imaginação, pareciam em tudo por tudo com os
respectivos candidatos da peleja governamental.
Bom, isso que falei do
gado bovino chegava mais longe, ia aos burros de cambitar cana para o engenho e
aos cavalos estradeiros de campear o gado. No chiqueiro das ovelhas, não raro
exemplares que se destacavam também recebiam apelidos que encaixavam feito luva,
na poesia dos caboclos sempre cheios de humor natural e satisfação em
pronunciar ou referir a qualquer dos viventes da bagaceira, naquele universo
típico do sertão.
Teimoso, Lavandeira,
Lenço, Sariema, Atoleiro, Confusão, Suru, Preguiçoso, Socó, outros nomes dos
bois do bagaço, a puxarem os restos da cana moída em cima de couros, tangidos
pelos caboclos. Recordo com facilidade cavalo de meu Tio Jorge, animal bonito,
todo preto, ligeiro que nem uma piaba, consagrado sob o título de Segredo, e que
corria sem demora atrás das reses fujonas, parecido com o título do próprio
nome.
No seu poema Os engenhos da minha terra, o poeta
pernambucano Ascenso Ferreira cita os lugares da infância, correspondentes ao costume
de que falo ligado à denominação do gado, quando diz: Dos engenhos da minha terra só os nomes fazem lembrar, Esperança,
Estrela Dalva, Flor do Bosque e Bom Mirar.
Assim, vale considerar
também nomes urbanos, os de nossos animais domésticos, tanto ligados às
famílias que mais parecem originados na tradição das pessoas. Desde os
primeiros momentos na cidade que presencio isso, Blecaute, Dog, Raf, Bob, Bela,
Cinzento, Hulk, Duba e Feiurinha, sequência das várias épocas retidas na
memória através desses irracionais que moram perto de gente e permanecem firmes
nas lembranças, assinalando fases e circunstâncias, controlando a velocidade desse
fluir constantes das gerações e dos dias.
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