quarta-feira, 16 de janeiro de 2013

Comodismo afetivo


Este turno da história humana permite algumas avaliações diante do jeito das pessoas se relacionarem umas com as outras. Se não, vejamos. Primeiro, na parte interna, psicológica, região aonde, muitas vezes, nem mesmo o dono sabe direito como andam as coisas. Território de alta velocidade das informações, entrechoque de pensamentos e sentimentos, torna-se difícil elaborar conclusões seguras quanto à identificação dos conflitos envolvidos. Assim, no império da dúvida, o sujeito escuta vozes discordantes e tiroteio cerrado de seus interesses e o dos interesses da grande multidão lá de fora.

Segundo, é que ninguém ver, de todo, limpas as estruturas em volta, formadas pela cultura e pelos costumes do povo. Só em raras ocasiões o contexto apresenta clareza meridiana, quando se quer alimentar sentimentos puros em relação aos outros, na jornada desta vida.

Talvez por isso aflorem tantas dificuldades afetivas, constantes aborrecidas na existência dos casais. Quer-se amar e pesos e cacarecos atrapalham o meio de campo, em forma de caprichos, vaidade, ciúme, mágoas, vinganças, raivas e rancores, fatores de desestímulo do amor a dois. Os passos andaram firmes até chegar na próxima parada, coisa comum pelos corredores da solidão, imortalizados no cancioneiro popular. Noutras palavras, quase inexiste a perfeita harmonia, quando considerados os índices estatísticos dos choques no roçado conjugal, por exemplo.

Uma história conhecida bem pode ilustrar esse velho sonho do parceiro ideal na busca da realização plena do jogo amoroso. Nela, um amigo encontra outro e pergunta se este achara a mulher ideal que tanto queira no passado, após décadas de longas aventuras sentimentais. E a resposta saiu de um modo o mais desencantado: Ah, sim, certa vez achei em lugar distante daqui. Houve, no entanto, detalhe essencial com o qual jamais contaria. Ela também vivia à procura do homem ideal, o qual, no caso, não coincidiu que fosse eu a quem procurava. Uma pena, e largo tempo jogado na lata do lixo.

Repetidas situações mostram pessoas caçando a miúdo alguém que pretende para doar o coração. Enquanto, em práticas idênticas, existem pessoas que trabalham no intuito de antes resolver a equação existencial, porém também caçando aqueles que venham prontos a lhes receber os corações.

Produto disso, na base da maioria das ocorrências, indica cego puxando aleijado, na jornada rotineira dos dramas particulares, tão decantados em prosa e verso, matéria prima das angústias e lágrimas dolorosas de notícias tristes.

Em resumo, a disposição de lutar pelo parceiro correto representa o sonho dos seres humanos, de nos tornarmos a reforma que a gente quer para o mundo. A felicidade virá, com certeza, do íntimo, invés de transportada às costas alheias por nossa acomodação e ausência de cuidados, ou irresponsabilidade. E que contribuamos por meio de ações úteis junto às leis inevitáveis da Natureza fraterna.           

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