Histórias que o povo alimenta conduzem
valores exemplares de outro modo a passar isolados, não fossem as metáforas para levá-los adiante. Vem disso continuação dos mitos orais nas
diferentes culturas.
A propósito, perante situações que a vida impõe, existe tendência ao
contraditório, à teimosia, da parte das pessoas envolvidas, disputa interna por
vezes evidente, quais fatalidades injustas do que se convencionou chamar Destino.
Em passe de mágica, de um e a outro momento, ventos giram a roleta da
sorte e sujeitam mudar projetos elaborados há séculos, antes considerados
perfeitos, que esvaem feito espuma. Só depois vêm notar, nas dobras do futuro,
que se tornaram herdeiros das venturas benfazejas. Conhecem-se através da
tradição popular histórias que mostram isso que dizemos. Leiam uma delas, pois:
Décadas passadas, no sertão nordestino, mourejava um agregado e sua
família, esposa e cinco filhos. Amarguravam a estrutura medieval do interior,
onde os moradores fazem parte integrante da gleba. De seca e inverno,
esperassem além do necessário, reduzidos ficavam à rude sobrevivência.
O pai rasgava a terra, plantava legumes no período das chuvas. Durante
o estio, servia apenas de braço ao dono do chão. Dispunha de poucos bens: eles
próprios, os instrumentos de ganhar o pão, os trens da cozinha e um animal de
leite, ganho de meação, vaquinha que remediava os filhos, neutralizando a
penúria.
Um animal peçonhento, porém, triste dia, colheu de surpresa a pobre
vaquinha, morta de mal desconhecido, refugada na pele e nos ossos.
Com o infausto, chegou o matuto na casa do proprietário, pediu as
contas, reuniu mulher, filhos e coisas, e largou-se no oco do mundo.
...
Inteirava trinta anos, um pouco mais, quando o antigo senhor da fazenda
viajou a terras do Paraná e encontrou, sem esperar, o ex-agregado e sua
família.
Diz a história, ter o nortista enriquecido; possuía fazenda bem
equipada, produzia fartas lavouras e educara os filhos nas melhores escolas.
Admirado de ver o progresso daquelas criaturas, o ex-patrão se
aproximou e quis saber por onde andaram desde que haviam ido embora.
- O senhor lembra a vaquinha que eu tinha lá no sítio? – perguntou o antigo
agregado. – Quando ela morreu daí fui forçado a correr e procurar as saídas. Andei
mundo – continuou. – Nos começos, trabalhava feito doido, mas serviço não
faltava. Os meninos cresceram e ajudaram no pesado. Ganhos melhores, economizei
quanto pude, e comprei uma garra de terra. Mais alguns cobres, e juntei gado.
Atravessado o pior, hoje, vejo que o que pensava ser desgraça se transformou em
vontade de vencer e superar as limitações. Por isso, agradeço o prejuízo daquela
vaca, o que me tirou da sua fazenda e me jogou a outras paragens.
...
A título de desfecho, cabe falar aqui na Lei da Compensação,
onde tudo se relaciona para favorecer os que bem merecem. Nela, plantar o que é
bom garante bons frutos, porquanto fazer e merecer caminham juntinhos
nas escolas do Infinito.
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