Personagem
das mais características, cuidou como poucos do planejamento urbanístico
cratense, embelezando a cidade e propiciando muito das feições que hoje
oferece, sobretudo nos logradouros centrais. Júlio Saraiva Leão, de família
tradicional do município de Quixadá, porém nascido em Crato, onde viveu longos
anos, da primeira para a segunda metade do século anterior. Homem dos sete
instrumentos, ele se destacou em nobres profissões, de ourives a músico,
fotógrafo, construtor, paisagista, etc.
Tipo
espirituoso, Júlio Saraiva animava, com suas considerações inteligentes, às
rodas nas noites da Praça Siqueira Campos, frequência obrigatória daqueles
tempos, quando, no máximo, se ouvia rádio ou liam livros, jornais, revistas,
cartas, telegramas, bulas de remédio e receitas de bolo, além das sessões de
cinema, o que servia para tirar as pessoas dos invólucros cotidianos.
Foi
o principal responsável pela reforma da Praça da Sé, no primeiro mandato do
Prof. Pedro Felício Cavalcanti à frente da municipalidade, sendo de a ideia da
fonte luminosa construída à época, modificada décadas adiante, tendo ao centro
composição de uma cúpula invertida fixada sobre quatro arcos, a jorrar altos
jatos d’água em três cores distintas, sensação do momento.
Quando
demoliram a casa que pertencera a D. Rosinha Fernandes, construção secular e pitoresca,
na área em que agora existe o Bradesco da Siqueira Campos, seu Júlio preservou dois artísticos leões de louça, peças
tradicionais que ornavam o portão principal no jardim da residência, símbolos
da aristocracia do Ciclo da Cana.
No
seu governo, o prefeito José Horácio Alves Pequeno designou-o para administrar
os logradouros municipais. Sabia como poucos embelezar praças e jardins. Dentre
as iniciativas que adotou, estabeleceu pequeno zoológico no Parque Municipal,
agora Praça Alexandre Arraes, reunindo espécimes dos animais da Chapada do
Araripe, dos brejos e das zonas circunvizinhas. Onças, veados, sariemas,
cutias, cobras, tatus, juritis, sabiás, jacus, retirados do ambiente original,
órfãos da silvestre liberdade. Recebiam ali tratamento digno, enquanto
ofereciam à população oportunidades de conhecer os irmãozinhos da Natureza.
Isso até quando não faltou verba para manutenção e os animais começaram a
passar privação.
Nesse
meio tempo, José Horácio avistou-se com Júlio Saraiva, trazendo à conversa
outro assunto bem menos importante:
-
Sim, Júlio, eu queria que você me oferecesse aqueles leões de louça - lembrou o
Prefeito, num tom de insinuação, visando algo de mais interesse: - Quando
poderei contar com eles?
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