quarta-feira, 17 de janeiro de 2024

Pelos quintais da Eternidade


E essa mesma fome de sonhar que as pessoas carregaram consigo anos a fio. Acima e abaixo, que as transportam nos velhos fardos de ocultos mantimentos na procura exótica de viver do pouco que restava de tudo aquilo. Olhos acesos, postos na lama do Infinito em decomposição, apenas observavam o gosto amargo da estupidez gravada pelos sucessivos folhetins. Combinam passo a passo o que dizer diante do eterno, porém cientes de sumir a qualquer momento sob os rochedos da ausência em ebulição. Mesmo assim, usam das palavras no instinto sombrio de contar novas histórias e sobreviver à hecatombe do Destino que de pronto e silenciosamente se aproxima. Marcas disso ficaram, sem dúvida. Meros argumentos de sórdidos amantes, deixam-se arrastar nos braços incontidos da paixão. Sofregamente, porém, alimentam as feras do instinto e abandonam as derradeiras máscaras do mistério a esses impulsos nefastos do tal desaparecimento. A qualquer das horas apressadas que lhes devoram as entranhas, crescem no desejo de ser alguém, mesmo que durante o itinerário dos dramas deste circo frenético. Vivem quais quem nunca imaginou pudessem atravessar tamanhas cordilheiras de alucinações, contudo de braços abertos ao fogaréu do sentimento. Eles, os antigos habitantes das ilhas imaginárias que sumiram durante o Dilúvio sem deixar vestígios, acordes, pois, dessa mesma sinfonia gravada nas guerras inumeráveis da Civilização e que sustentam consigo os primeiros pensamentos do passado que foram as tempestades do final de tudo. Ali, bem defronte aos ídolos que nutriram as multidões, tremiam de esperança na certeza de reencontrar os anseios de transformação desses perdidos heróis que esqueceram as falas do papel principal e sacudiram levianamente as vestes de vilão que guardaram durante todo tempo. Que mais dizer senão das vetustas fórmulas matemáticas de um próximo orgasmo cantado em prosa e verso nas profecias inesgotáveis da espécie em queda livre. Nós, os passageiros da angústia e amantes do prazer, pródigos filhos da solidão, nisto, e sorrateiramente, cruzam o espaço das primeiras naves já previstas nas lendas de ficção, que chegarão a qualquer minuto e tomarão conta do que sobrou do espetáculo em andamento a céu aberto  na memória dos poucos ou nenhuns.

(Ilustração: O véu de Isis (Arte egípcia).

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