segunda-feira, 15 de janeiro de 2024

No oceano das palavras


Mesmo que dentro da cápsula, ainda assim vemo-nos face a face com a realidade através dos pensamentos, que viram palavras e arrastam as conjecturas. Nem de longe imaginar houvesse outro meio senão a própria consciência em formação sob os limites estreitos de si mesmo. Meros gravetos a flutuar nesse mar de impressões que testificam só a própria pessoa e ninguém mais, mesmo que nos toquemos a todo instante noutros objetos também na flutuação das ondas ansiosas.

De um a um, somos tão só (ou esse caudal de) pequenos toques face a face com aparências que as formamos e trazemos à tona, todos à procura de um código que venha superar a distância infinita nossa com a certeza de que descobriremos a Verdade qual seja lá um dia. São infinitas folhagens numa aparente certeza. Circunstâncias em movimento. Pretensões de variados tons que aspiram desesperadamente desvendar o mistério dos sóis em formação do que ora somos. Fagulhas do grande Todo. Uma imensidade dos pequenos universos que sacodem o Tempo em tudo.

Disso, desse afã de moléculas que compõem o painel das gerações, nascem as perguntas e respostas, quais poder de todos em uma ação inevitável pelos céus de todo dia. Isto bem será o que temos a oferecer no altar dos sacrifícios das horas. Juntamos e desfazemos a todo momento, artífices da sorte. Daí as construções, bibliotecas, descrições e práticas que conduzem a sinfonia da Eternidade. Querer sim ser maiores, significar apenas ser e nada além disto. Batemo-nos, pois, nos rochedos das noites e adormecemos ao som dos fascínios e nos alimentamos de desejos e dúvidas. Depois, simplesmente o caos da imensidão que desaparece sorrateiramente na escuridão entre as falas insistentes.

A consistência de que falam os livros permanece latente às próximas impressões largadas ao vento. Pequenos, porém existentes. Maiores, porém anônimos. Luzes que acedem e apagam; apagam e acedem; num único acorde que nos dar andamento rumo ao Cosmos em formação. Isto, e o silêncio sideral.

(Ilustração: Vincent Van Gogh).

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