terça-feira, 9 de janeiro de 2024

Os dias de hoje

A paisagem do tempo em andamento bem que reflete essa realidade inesgotável em forma de marcas profundas
grudadas lá no íntimo. As condições de observar, no entanto, nem sempre facilitam que possamos ver de perto esse tudo que reflete cada momento. Às vezes se insiste em admitir que os dias sejam iguais. Que tragam alguma parecença disto sabíamos, visto ter vivido os outros. Que arrastem os fiapos dos dias anteriores, também assim consideramos. Que alimentem de contradições os desenhos de toda hora, que jeito há que ser assim. Contudo adquirimos essa estranha capacidade de permitir que nos adaptemos aos embates por vezes amargos, assustadores, imprevistos... E nisso deixamos de lado a mera configuração das vésperas e engolimos o travo dos demais constrangimentos que chegam...

No decorrer das vidas, tratamos de sustentar a nós próprios diante dos desafios. Daí vêm as ausências que machucam, as saudades famintas que percorrem as ocasiões em que deixamos de lado os apegos do instante e recordamos dos entes queridos que, já desaparecidos, ficaram entranhados na nossa essência, amigos de tão boas oportunidades e que gostaríamos fossem eternos e estivessem aqui junto da gente. Ah, quanta saudade das ocasiões felizes, guardadas no furor do coração e que estarão vivas além das contas do que passou.

Doutro lado, o tempo voa aos nossos pés. As longas estradas parecem continuar, independente das nossas opiniões mortais. Nas ruas e avenidas, nos lugares da cidade, no campo, nas noites, nos dias, nos sonhos, no calendário em movimento acelerado a nossos olhos esmaecidos pelas jornadas sem fim, amém. Uma carretilha de pequenas circunstâncias que fogem quais seres independentes, que arrancam pedaços da existência em troca do que exigem de conformação. O resultado são as artes que permanecem na alma, que falam, gritam nomes e números, acordes de canções, filmes, livros, tudo na justa medida em que acalmamos a mente e deixamos que esses seres poderosos triturem em nós os sentimentos, os medos, as culpas, e deslizem conosco ao mar do Infinito.

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