segunda-feira, 2 de janeiro de 2023

O Amor e o Tempo


Só o Nada é eterno, no território infinito entre o Amor e o Tempo.... Nuvens escuros que passam, sonhos que permanecem. Luzes, muitas luzes a clarear a noite dos séculos no coração das pessoas. Porquanto o amor verdadeiro este jamais há de sumir, porque insiste de continuar lá dentro das fornalhas do esquecimento, vidas adiante, nas hostes do Paraíso que trazemos conosco. Corações estes em brasa, firmes na fé da certeza, marcas definitivas dos sóis esplendorosos dos momentos em flor. Algo além da pura transição de perdidos acontecimentos, depois disto enlaçados em haveres encontrados um no outro nessa tamanha certeza.

Foram, pois, nascidos nas eras do querer e daqui nunca mais há de passar... Isto sem explicações, justificativas que fossem, que seriam, que sejam... Apegos de si... Fusão de seres no mais absoluto do mistério. Seres entranhados no apego à unidade, valor de extrema beleza, a paz do silêncio, a força da verdade maior. Numa palavra, a transcendência daquilo que parecia sumir enquanto circunstâncias e saudades. Ali permanece, no entanto, quais presença do definitivo na mesma busca de tantos e tantos.  

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Resta bem isto, o Amor qual momentos em formação no decorrer das existências. Seres em seres. Luz que acende no íntimo das criaturas e refaz o percurso do Tempo até chegar à consciência. Em passos por vezes lentos, incertos, contudo que atravessam as florestas sombrias da alma dos tais seres em constante movimento. Pequenos fragmentos de sentimentos e palavras ali vão lançados à sorte. São recordações das vidas sucessivas. Sombras soturnas. Mantras deixados pelos acordes místicos das horas no seio de todos nós. Enquanto isso, o Tempo registra nas folhas dos livros santos o que deixa largado nas encostas de montanhas intransponíveis pela grandeza e sublimidade.

E todos eles, todos nós, nesse caudal de sacrifício, resistindo a ferro e fogo os tendões de um poder que afirma sua vontade nos corações em festa. Doces dias gravados no zinco de suas histórias individuais. Longas filas que atravessam os desertos e a imaginação, e adormecem nas bordas do abismo, alimentos mornos da vontade dos deuses.

(Ilustração: Cavalos de fogo (Sombra dos ancestrais esquecidos), filme de Sergei Paradianov).

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