domingo, 15 de janeiro de 2023

As cigarras do fim de tarde


Entre o ciciar das palmeiras e o silêncio, a trilha sonora do vento. Horas de paz envolvem o mundo. As derradeiras cores do dia adormecem em um rosa avermelhado cobrindo de mistério o tempo. São luzes que acendem na alma da gente e formam seus primeiros rastros de saudade incontida. Sons. Músicas. Harmonia pura. Vozes da natureza em volta. Presença inesquecível do equilíbrio e da fala intermitente do coração. Perfeição absoluta. Quadro magistral da Consciência a envolver a imensidão de pureza e vozes distantes.

Dentro, nos refolhos de um cenário definitivo, todas as peças, livros, histórias, deslizam através do tom que resulta nas notas exatas da melodia dos destinos. Escuta, e cala. Tranquiliza. Tange de leve o barco das horas através do firmamento e das existências. Sorrir. Alimenta de sentimentos a paisagem sem par dessa lâmina eterna dos céus.

Por vezes, lembranças que escorrem da memória e embebem de suavidade tudo em volta. Pessoas. Momentos vários. Circunstâncias que se fazem nas páginas já escurecidas que agora cercam de noite as estradas; nuvens lá no alto que perpassam de sol os pensamentos, vindo de novo na força de continuar o quanto seja nas profundezas das vidas.

Tantas vezes que trazem de novo a chama de antes, enquanto buscamos o sabor dos momentos em nós. Sobrevivemos o ser de que fomos um dia e não mais existe em lugar algum. Há que construir outro edifício do que sejamos adiante, pois. Uma série de pequenos enganos, espécimes de seres viventes do solo de nós mesmos, que vêm devagarinho e acham o íntimo de todos nas marcas deixadas indeléveis do que buscávamos.

Assim, nem de longe ter aonde fugir. Receber de bom grado o quanto nos cabe e aclarar o senso, e no fim revelar a essência do que nos basta. Deter de palavras o aluvião das verdades que percorremos e admitir sermos parte integrante de tudo, qual dos acordes dessa inefável sinfonia.

 

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