quinta-feira, 15 de dezembro de 2022

Linhas de raciocínio


A evolução dos tempos deixa margem aos pensamentos que se desprendem feito camadas sucessivas, cascas e filamentos. Querer, todos querem dizer o que seja no sentido de clarear o silêncio que sussurra em volta. Quais pássaros batendo asas no céu, vivem os seres pensantes a procurar repouso na ânsia de contar o que lhe vem à imaginação. Leilões de ofertas aos milhares, que preenchem dias e noites, alimentam a fome de continuar, que seja. Parece até puro exercício de movimentar o corpo do espírito. Correm. Dançam. Vagam. Ficam restos de momentos pelo monturo das horas. Aonde quer, existem essas fábricas de raciocínio em movimento.

Na busca incessante de responder ao desaparecimento inevitável, dela vêm perguntas largadas ao vento. Burburinho incessante, sentimentos viram pensamentos e pensamentos, palavras. Das ideias refulgem os argumentos. Sempre assim, seres da espécie que rasgam as vistas a falar das regiões desérticas lá de dentro, sustentando teses de prosseguir a todo custo. Mas deixam bem claro o jogo de intenções a que submetem a função de viver aqui neste lugar. Vontade insana de levar adiante o barco do destino através da força de arrecifes dos motivos de sobreviver.

Essa aventura da existência, pois, significa representar o senso por meio da alimentação e do sustento dos demais. Juntar, arrecadar, dominar. Daí, as normas e os conceitos, filosofias de utilidade. Argumentos valem enquanto instrumentos de domínio sobre os demais. Criam com isso justificativas costuradas às pressas de prevalecer e impor condições.

Isso em tudo, enfim. Grupos organizados na forma de multidões, naves que percorrem o Infinito recolhendo materiais suficientes de reger o firmamento da inteligência. Barcos vazios de compreensão, muitos séculos até iluminar de todo o sol da Verdade, que só hoje vem à tona pela eventualidade dagora. Na busca da paz, quantas vezes fizemos de conta e perdemos a oportunidade. Noutras, no entanto, concretizamos o sonho e viveremos felizes.

(Ilustração: Xilogravura de Nilo).


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