segunda-feira, 15 de agosto de 2022

Um jeito de se rever

 

Um meio de voltar no tempo que permite lá muitas formas, as quais inesperadas e pessoais, que anima blocos internos da gente a ponto de trazer de novo os conteúdos arcaicos da alma e reconstituir fragmentos de histórias inteiras. Nisso a virtude da literatura e dos que afirmam suas versões de gestos e acontecimentos que ficaram aparentemente perdidos na poeira do passado, porquanto, ainda permanecem restritos pelos arquivos pessoais e intransferíveis, a  ser então aquilo de que contam suas histórias.

Neste período que estou sinto, pois, bem isto, ao passar alguns dias na Bahia e presenciar cenas insistentes do que, no passado, vivenciei no estoque dos sentimentos, pois ali a memória e o coração andam juntos. Foram naqueles oito anos, quando aqui morei, na década de 70, época inesquecível que, para minha surpresa, permanece grudada nas paredes da lembrança de quem veio sem conhecer o lugar e quase ninguém.

Daí, em ondas gigantes que me invadem as trilhas dos pensamentos e se superpõem numa cadência a bem dizer constante, vejo repassarem as mesmas memórias que trouxera do Ceará, desde a infância no Tatu, aos idos da adolescência e início da idade adulta em Crato, aos quatro anos que trabalhei em Brejo Santo, tudo vindo sucessivamente intacto. A preencher o espaço deste momento, revejo por dentro as saudades que vieram comigo naquela época. As festas, os passeios, as experiências de colégio, de jornal, de rádio, das praças, dos turnos de estrada a ir e vir nas viagens, os amigos, as pessoas da cidade, o comércio, filmes, namoros, livros que lera, revistas, os jogos de futebol, as decepções e os sucessos, as músicas, num turbilhão de vivências que ora permanecem guardadas nos refolhos de mim, chamas que nunca apagaram.

Certa feita, ouvi que foram captadas, na costa do Oceano Pacífico, imagens de uma emissão de televisão de mais de três anos, em cenas diversas que, tais nuvens vadias, chegaram a um equipamento, deixando margem a considerar que essas emissões eletrônicas ficam soltas no ar, sujeitas a se repetir aleatoriamente. Isto hoje sinto nessas memórias que retomam os meus instantes de lembranças sem mais nem menos, espécies de seres que sumiram e que vivos permanecem nalgum lugar das entranhas do tempo. Ao sentir o clima da Bahia, nestas horas, os céus, os sons imaginários, qual chamasse de volta resquícios de outro mundo esquecido, o coração mexe por dentro e reconstitui este eu que sou e o eu que antes lembrava do que havia sido, sistema de formas, cores e luzes entranhadas num sempre agora que lhe seja eterno.

Um comentário:

  1. O que você relata é assim. De repente nos damos conta e paramos a olhar no retrovisor do tempo onde criamos e trazemos conosco as nossas lembranças, nossos sonhos, o realizamos, o que ficou permaneceu apenas nos sonhos. São lembranças que ficaram no decorrer d nossa vida e lá permanecem. 🌟💫

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