domingo, 7 de agosto de 2022

Os escravos de si mesmos

São elas as vítimas dos desejos, viciados no prazer... Padecem ainda à sombra das próprias árvores de humana servidão. Não poucas vezes, até que entregam a sorte aos fazedores de escravos que vagam nas noites escuras do passado em movimento, que lhes devora de dentes amolados quais mercadores de almas em suas atividades constantes nas ruas do sofrimento alheio.

Que eles parecem nada saber disso por fria entrega às malhas da sede insaciável da ignorância da Verdade e dos apegos doentios ao chão da carne onde saciam viver em liquidação, ninguém sabe quantas mais reencarnações há-de sorver vidas adiante. Resposta inglória às tantas oportunidades de revelação doutras naturezas bem valiosas que as que transportam nas malhas do coração, isto, no entanto, fervem de apetite pelas frestas da ilusão imediata.

Quem sabe sejam esses aqueles mesmos que noutras ocasiões deixaram fugir entre os dedos as possibilidades da cura dos males da matéria e prendem laços à fúria dos braços torpes de uma condição inferior dos que aqui permanecem por maior tempo. Quebram as barreiras da fortuna e nutrem os nexos das ruínas que produzem no trocar de passos. Algozes da esperança de que poderiam ser a origem, deixam cair na lama da ausência os melhores sonhos.

...

Atônitos, regressam de mãos vazias no mergulho que dão nas fibras do espaço mais lento, longe até do que haviam descoberto aos chegarem aqui. Viram tantas vezes o brilho do Sol, porém largaram fora toda a força das manhãs iluminadas de beleza e penhor. Feridos na ânsia incontida dos valores imediatos, gastam, num piscar de olhos, a infinitude da fortuna recebida e choram aos braços da amargura, nessa urgência de propósitos válidos ao senso da purificação das almas de que sejam os parceiros durante a longa Eternidade.

Na sofreguidão dessas angústias, pois, habita quiçá a maior população de todos, presas fáceis da inutilidade daquilo que confeccionaria o novo ser que já somos agora, à espera tão só das atitudes da liberação pessoal em pleno voo.

(Ilustração: O inferno, de Dante).

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