terça-feira, 11 de maio de 2021

As palavras


Elas têm vida própria. Diante deste silêncio que trazem as horas noturnas, quando o vento sacode as árvores e os animais acham lugar nas sombras, ainda assim elas mexem por dentro de tudo isto, as palavras, filamentos sublimes de eternidades. Elas que querem por que querem vir à tona. Mais que ninguém, sabem o que dizer daquilo que carregam nas entrelinhas das ausências, e trabalham os sentimentos das pessoas que dormem, querendo, dalgum jeito, reviver memórias acontecidas, sacudir conceitos e modificar o instinto das almas penadas que vagam pelos desertos das visagens. Quais movimento das marés, insistem acordar as criaturas e lembrar-lhes do mistério que transportam  vidas afora, instrumentos insatisfeitos de esperança e fé, nem sempre alimentados pelos humanos nessas horas mortas. E nisto querem fazer valer o peso dos instantes que passam velozes; dormem, contudo, face a face com o ritmo de um tempo largado lá fora.

Palavras, motivos soltos nos sons do silêncio. Depois que a pressa recolhe suas asas, os significados, no entanto, permanecem grudados às colinas do pensamento dessas criaturas que fazem de conta que adormeceram. Daí, vêm os sonhos na forma dos roteiros e argumentos, e aceleram o senso de saber mais dos sentimentos escondidos. Tantas histórias que buscam acordar na gente o tal poder de criação, porém se esquecem de revelar o sentido logo que despertam ao nada desses dias que viram farelo em nossas mãos desajeitadas.

No entanto elas ali permanecem indefinidas pelas esquinas do firmamento, animais vadios, indomáveis, plantas vivas. Transitam impacientes de achar nalgum dia, quando menos presos estivermos aos hábitos, de nos encontrar de verdade. Bichos afoitos e selvagens, nos tomarão apegos ao nada, e farão de tudo quanto somos só instrumentos da velocidade do ser que foge de si, atirando-nos ao clarão das madrugadas, transformando de pedras em poeira e, nesse momento sagrado, havemos de amar e dominar o destino de tudo.

                                                                                                      

4 comentários:

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  3. Queria muito alcançar o significado real do que você revela nos seus escritos. Consola-te saber que um pouco eu compreendo.

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