segunda-feira, 8 de outubro de 2018

As marcas do tempo

Nem sei (e sei!) o motivo dos humanos gastarem tantas vezes lambendo as feridas e com medo das cicatrizes que a vida impõe no decorrer das horas intermitentes. Depois, se acham velhos e feios, e tal... Ninguém aceita de bom grado o pisar dos dias; ou aceitando, ficam esdrúxulos, calados, quando veem cair os dentes, as linhas das rugas, a sequidão da pele, pois os conceitos estéticos custam moeda corrente e mistura a cabeça dos racionais feitos ácido, machucam de criar calo na alma das criaturas. Ninguém que se preze gosta de olhar o espelho de passados que já foram, quatro, cinco décadas atrás em agruras e prazeres a fio, e dramas ocasionais pelas quebradas deste chão transitório. 

Porém, ah! poréns dessa jornada terrena... Todavia (vamos mudar o termo) de pouco adiante recalcitrar contra o aguilhão, no dizer de Paulo de Tarso, porquanto a história nem muda de página quando quer passar adiante. Vamos nós, alimárias, tangidas pelo senhor do Tempo no rebanho dos momentos, laranjas do mesmo saco, ostras nos rochedos distantes. Ou descobre a que veio, ou há que regressar quantas vezes necessárias aos aprendizados, tempos e tempos. Velha submissão aos valores eternos, vamos premidos às moedas dos desejos, cabeças focadas no interesse individual e satisfeitos da sorte, quando muito.

Nisso, a força da sabedoria de quem na tem, viver com mínimo de sensatez perante o destino e as eras. Querer, ou confrontar, pouco importa, se importar. O padrão serve a todos, pobres ou remediados, nas hostes dos vagões espalhados nas galáxias, atores ou diretores; sujeitos ou objetos dos seriados em voga. E tempo trará de fora adentro orientações de humildade aos que abrem os olhos neste sonho exótico. Que é que aprendi até hoje dessa engrenagem de trituração de matéria em espírito?

Bem, quase só isso, dessas reflexões periódicas das perfectividades, desse amor de gente que existimos a trocar passos. Querer o mínimo de coerência no teatro das ilusões de conhecer o mundo em volta. Tocar as circunstâncias e transformar gestos em trilhas na barriga do Tempo, quais instrumentos da compreensão de tudo em movimento. 

(Ilustração: Colagem, Emerson Monteiro).

3 comentários:

  1. Acho interessante as pessoas terem tanto medo de envelhecer, sinceramente não vejo razão para isso. Envelhecer com qualidade de vida é uma benção. E a velhice é uma certeza tal qual a passagem para outro plano. A beleza, a estética é bem vinda e até faz bem ao ego, mas não fundamental. As pessoas são dotadas de outros valores que não seja necessariamente a beleza, a juventude. Oscar Wilde, em seu livro O retrato de Dorian Gray, onde ele relata a importância da beleza e juventude para ser feliz. É bom ser jovem e bonito, mas não é tudo e nem será. Existem tantas outras formas de superar o passar dos anos que não necessariamente será a beleza e a juventude.

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  2. O tempo urge. Seja feliz hoje meu caro Emerson Monteiro, não espere o amanhã chegar.

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  3. Nos deixamos as nossas marcas, nosso legado, nossas história de vida. Cada um escreve a sua história . Um abraço Emerson Monteiro

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