sexta-feira, 15 de agosto de 2014

Moral de sertanejo

No tempo ainda quando Luiz Gonzaga se achava neste chão, certa vez, ouvido por conterrâneo seu numa das memoráveis apresentações de praça pública que fazia no Rio de Janeiro, naquele trecho da música Paraíba que afirma Sertão de muié séria, de homê trabalhado, esse amigo comentava: - Virgê, parece que faz tempo que Luiz não vai no Norte.

E outros consideram saudosos os idos históricos da fase em que um fio de bigode servia de garantia aos negócios entre os sertanejos.

Ó tempos, ó costumes!, falavam de boca cheia os romanos para avaliar o desgaste da moral no decorrer da história.

Fica-se, no entanto, a perguntar: por onde anda o sentido austero da sociedade no que diz respeito ao cuidado com a palavra, não só nos negócios, porém no decorrer da vida em grupo, devido à ausência de critérios e firmeza nas atitudes e nos gestos que alimentam o cotidiano?!

Isso porque nem a confusão entre os termos ética e moral, que atravessa os séculos das academias, é capaz de explicar os motivos do desgaste imenso de hoje em dia, dando à  austeridade lugar de pura ficção.

Raros sobreviventes da primeira metade do século XX transmitem essa notícia de que o sertanejo primava pela honra e elevava aos céus bons predicados da moral, observados, contudo, se viver período escuro, de bandoleiros e volantes, antes até da Revolução de 30, os quais amargavam de medo os interiores do Nordeste com práticas desleais e selvagens.

Havia o homem cordial, pai de família modelo de virtude, dotado de um código ético irreparável, fruto das reservas mais esclarecidas, proveniente da formação dos ancestrais a cumprir a função de mostrar normas fiéis. A marca típica desses senhores de sítios e fazendas norteava um prazer original de boa convivência a que ninguém aceitava desacreditar, qual fosse marca de campanha vitoriosa de vida.

Houvesse outros defeitos, entretanto a palavra sobreviveria para mostrar o quanto vale dizer e sustentar o que se diz. 

Passado menos de cem anos e se busca aonde sumiu o prestígio da fala nas crônicas caboclas. Em que madrugada o perfil dos cidadãos abandonou o prestígio e deixou que a complacência enovelasse de pó o caráter antigo da natural equidade.

As conseqüências dessa transformação geram a imensidade dos papéis que amarelam no fundo das gavetas, nos bancos e tribunais, a profissionalizar ofícios que antes nem inexistiam. O estado de direito cobra o preço da revelação de personalidade sinistra, a muitos chamada de globalização, afastando para longe os modos prudentes da valentia do caráter inatacável dos matutos.

Quer-se, outrossim, imaginar que nada justifica a incapacidade humana ao justo, ao honesto e ao correto, valores distantes dos caminhos que percorrem ações do momento presente, nos vários campos da vida pública.

(Foto: Jackson Bola Bantim).

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